Victor Santos Nascimento, 22anos, formando em Psicologia (UniRuy), morador de comunidade periférica em Salvador, Bahia. Victor é membro do Núcleo de Invocação Tecnológico em Reabilitação (NITRE), da Universidade Federal da Bahia(UFBA), membro do Laboratório Interdisciplinar de Neurodesenvolvimento Sociocognitivo (LINES-UniFTC) e faz parte do programa de apadrinhamento do grupo de estudos e pesquisa Awake Cognição e Neurocirurgia
O início da vida profissional é um processo complexo, que perpassa por fatores cognitivos, interpessoais, sociais e culturais. Em diversas culturas, marca a passagem para a vida adulta.
Em muitas classes sociais, a universidade faz parte do processo de entrada no mercado de trabalho, entretanto muitos jovens de comunidade vulneráveis de periferia nem sabem que podem estar nesses espaços, por falta de figuras que sirvam como referência ou que possam instruí-los a isso. A maior parte da população de comunidades periféricas é de jovens negros e pobres, enquanto as universidades são ocupadas, em sua maioria, por pessoas brancas e de classe média alta. A falta de identificação com o público majoritário do ensino superior contribui com o afastamento deste ambiente.
Um fator que faz parte do cotidiano do jovem periférico é a gravidez na adolescência, sendo esse um fator condicionante a buscar um emprego, não o dos sonhos, mas aquele mais próximo que dê o sustento mínimo. Esse também é um dos motivos que colaboram para evasão estudantil e é mais um fator de distância entre o jovem e o sistema universitário.
Eu, como um jovem que moro no subúrbio, vi diversos talentos que precisaram abdicar de seus sonhos para conseguir um emprego ou o chamado ‘’bico’’, para ajudar sua família, ou sustentar um filho (às vezes vários). Além das situações citadas, temos um outro tipo de exemplo, o jovem periférico que consegue adentrar o espaço do ensino superior, muitas vezes com bolsa, mas necessita trabalhar concomitantemente ao estudo, para conseguir se manter na faculdade.
O contexto onde as pessoas estão inseridas contribuem para modelar a forma que elas pensam, podendo desenvolver uma visão pessimista de si mesmos, do mundo e do futuro. Neste sentido, precisamos incentivar nossas crianças a correr atrás de seus objetivos e permitir que elas possam sonhar com um futuro melhor, com um emprego dos sonhos ou um local melhor para viver.
O primeiro emprego, em nossa sociedade simboliza o fim de um ciclo e o início de um novo. A saída da adolescência e a entrada na vida adulta, em muitos jovens é uma passagem precoce. Apesar de parecer um ato simples, o primeiro trabalho envolve diversos fatores como os que foram citados, representando um marco importante para a vida dos sujeitos, por isso é tão importante possibilitar ferramentas para que nossos jovens possam alcançar seus objetivos e um primeiro emprego que possibilite o impulsionamento para o mercado de trabalho e para uma carreira sólida, ou pelo menos a possibilidade de desenvolver uma carreira.