221.869, esse é o número estimado de pessoas que vivem hoje nas ruas no Brasil. Os dados são da pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), publicada em março de 2020. Entre setembro de 2012 e março de 2020, o aumento da população de rua no Brasil foi de 139%.
De acordo com dados da ONG Visão Mundial, organização que atua no Brasil desde 1975, são mais de 70 mil crianças em situação de rua no país. Segundo o estudo, 51% das crianças têm seus direitos bruscamente violados. Investir no cuidado infantil e no seu acesso de forma qualificada é o passo mais importante para gerar oportunidades de sair da pobreza.
Para a subprocuradora-geral do Trabalho, Coordenadora do GT “Povos Originários e Comunidades Tradicionais” do Ministério Público Do Trabalho, Edelamare Melo, a situação se agravou durante a pandemia, tanto nas grandes cidades quanto no interior. “A situação de rua vai além da calçada, da fome… Ela é insegura, angustiante. Amedronta um adulto, extingue a esperança que há em uma criança. Isso acontece aqui, na cidade, e no interior também. Estamos falando de crianças. Nossa responsabilidade é trabalhar para mudar essa realidade. O MPT, dentro e fora das suas atribuições, em inúmeras vezes desenvolve ações e campanhas para combater essa realidade”, destaca a subprocuradora-geral do MPT.
A pesquisa do IPEA, traz ainda informações sobre o perfil de quem vive na rua no Brasil. 15,1% dessas pessoas nunca estudaram, 48,4% têm o ensino fundamental incompleto e 67% são negros ou afrodescendentes.
Milsosol Sousa, escritor, poeta e baiano, mora no Rio e trabalha com atendimento à pesquisa no Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros, o IPEAFRO. O instituto guarda o acervo do professor Abdias Nascimento, intelectual, escritor, dramaturgo, ator, artista plástico, político e ativista da militância antirracista. Para o escritor, falar de crianças em situação de rua nos dias atuais, “dias marcados pela pandemia”, é falar também do pouco caso por parte das autoridades públicas.
“Basta uma volta pelas ruas do centro, assim como em muitas ruas de outras partes do Rio de Janeiro, para constatarmos a miséria instalada nas calçadas abrigando famílias, em números cada vez maiores. Quando focamos nas crianças, a miséria pesa ainda mais por serem menores, evidentemente. As desigualdades que nos afligem hoje são as mesmas de séculos atrás, assim como os preconceitos, racismos e fobias. O que há de novo é que esses malefícios se potencializaram. Contudo, acredito na boa educação, que é a educação que ensina os valores saudáveis da vida e que pela vida preza”.
Para o artista, as ações do IPEAFRO deram oportunidade de conviver com jovens menos favorecidos e acreditar que a situação pode ser revertida com o esforço coletivo.
“Através do IPEAFRO, tive a oportunidade de ministrar oficinas de incentivo à leitura e à escrita para crianças e jovens de baixa renda, assim como já participei de ações coletivas educacionais para crianças e jovens e por isso, aposto nessa reinvenção e acredito na nossa superação, não a partir de sonhos apenas, mas a partir da empatia, da solidariedade, do esforço coletivo e da força coletiva que, felizmente, também cresce em nossos dias.
O Àwúre, iniciativa do Ministério Público do Trabalho (MPT, Organização Internacional do Trabalho (OIT) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), trabalha com jovens e crianças em comunidades periféricas, como no Àwúre Recôncavo, projeto em parceria com o Instituto Aliança e a Plan International. O Àwúre busca ações para garantir condições dignas e respeito para que todes possam exercer sua cidadania e construir um futuro digno.