“Na pandemia eu vi tudo piorar. Não pude trabalhar e para piorar, sofri um acidente que me impediu de caminhar. Quem me acompanhava e me ajudava não podia mais vir aqui para casa. Era eu e Deus”.
Assim Edivanildes Maria dos Santos, também conhecida como Mãe Cotinha de Ogum, conta como está sendo enfrentar a pandemia da COVID-19. Ela sempre foi mãe solo. Seu primeiro filho veio aos 14 anos. Trabalhou como diarista, camareira e hoje é baiana de acarajé. “Eu tive filho muito nova. Eu sempre fui mãe solo. Na época, eu tive o apoio dos meus pais, mas para os outros eu era uma aberração. Uma adolescente grávida? Adolescente não, criança! Eu enfrentei tudo isso. Graças a Deus e com a força dos Orixás eu consegui superar.” Conta Edivanildes.
Os impactos causados pela pandemia no lar, a diminuição da renda familiar e o retrocesso profissional, no Brasil, onde 8,5 milhões de mulheres deixaram o mercado de trabalho são ainda mais dolorosos para as chamadas mães solo. São mulheres que são as únicas ou principais responsáveis pela criança. De acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de desempregados no início da pandemia aumentou 14,5%. As Mulheres negras foram as mais atingidas nesse processo de segregação e desigualdade.
A Organização das Nações Unidas (ONU) alertou para a necessidade de aumento nos investimentos em serviços de saúde mental durante a pandemia. Destacou também o maior risco, em especial, para as mulheres que desenvolvem tarefas domesticas, cuidam dos filhos e do lar. As mulheres foram as mais atingidas pelas interrupções dos serviços de saúde. Segundo dados da ONU, aproximadamente 20 milhões de mulheres nas Américas tiveram seu controle de natalidade interrompido durante a pandemia.
Procuradora do Trabalho e coordenadora da Procuradoria do Trabalho no Município de Araguaína, no Tocantins, Cecília Santos, a pandemia agravou a situação de desigualdade que existe no país, principalmente para as mulheres negras e mães. “Muitas mulheres perderam seus postos de trabalho por não ter apoio para os seus filhos em idade escolar. Muitas mães que tinham creches para deixar seus filhos e poderem trabalhar naquele horário, não tinham mais. Onde e com quem elas iriam deixar seus filhos se eles estavam em casa? O Ministério Público do Trabalho é sensível a essa situação, principalmente o Projeto Àwúre, que é um projeto voltado para as comunidades, quilombolas, de terreiros, comunidades de periferia, comunidades indígenas… e essas foram as que mais sofreram com isso. A gente nesse período pandêmico dentro do projeto Àwúre, buscamos dar assistência básica a essas pessoas. Já conseguimos entregar mais de 60 mil com cestas básicas, além de cursos de capacitação e ações para diminuir esse impacto”.
Aparecida da Silva Pereira, mãe e desempregada, sabe bem qual foi o impacto da pandemia. A Diarista, perdeu boa parte da sua renda com o isolamento social. “Já era difícil criar uma criança sozinha, minha irmã que mora comigo me ajuda bastante, mas ela também tem suas coisas, entende? Com a pandemia eu deixei de fazer muita faxina, consegui receber o auxílio, mas não tá dando conta não. A gente vai se virando como dá. É difícil, eu tenho filho pequeno.”
O auxílio emergencial 2021 será pago a mais 110 mil mães chefes de família. As mães aprovadas na nova análise dos dados terão direito de receber até no máximo R$ 1.500, em quatro parcelas de R$ 375. No entanto, o valor total dependerá de quantas cotas a chefe de família está apta a ganhar.
No Brasil, 63% das casas chefiadas por mulheres estão abaixo da linha da pobreza. O Àwúre, iniciativa do Ministério Público do Trabalho (MPT), da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), acredita e apoia jovens e mulheres negras a superar as dificuldades impostas pela pandemia através das suas iniciativas espalhadas por todo Brasil.