As religiões de matriz africana mais comuns no Brasil são o Candomblé e a Umbanda, que receberam influência direta dos negros africanos durante o período escravocrata no Brasil, entre 1534 e 1888. De acordo com dados do IBGE, do censo de 2010, o Candomblé, a Umbanda e outras religiosidades de matriz africana representavam 0,31% da população, correspondendo a pouco mais de meio milhão de pessoas. O censo também indica que 47% dos adeptos das religiões de matriz africana no Brasil são brancos e 13% do total de fiéis têm nível superior completo – índice acima da média nacional, de 11%.

Já a pesquisa feita pelo Instituto Datafolha, divulgada em 2020, indica que 2% da população do Brasil, mais de 4 milhões de brasileiros, são adeptos da Umbanda, Candomblé ou outras religiões de matriz africana.

O Àwúre Terreiros se propôs a realizar estudos para a compreensão da religiosidade, história, tradição e cultura ancestrais dos povos e comunidades tradicionais de terreiro de matriz africana de culto a orixás, voduns, nkisses, e outros, para contribuir com o rompimento dos estigmas e preconceitos que envolvem as religiões de matriz africana e, consequentemente, promover o combate à violência e intolerância religiosa, valorização da cultura, história e tradições dessas comunidades, com divulgação do material coletado e desenvolvimento de plataforma específica.

O projeto acontece em comunidades (Terreiros) de religiões de matriz africana, representativas de tradições religiosas distintas, localizadas na Bahia (Municípios: Salvador, Maragogipe, Santo Antônio de Jesus, Salinas das Margaridas, Santo Amaro da Purificação, Muritiba, Nazaré das Farinhas, Cachoeira, São Félix, Cruz das Almas), e, em um segundo momento, em São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Maranhão. O Àwúre Terreiros busca a compreensão e fortalecimento das condições de trabalho, fixação desses grupos populacionais nos seus respectivos territórios e geração de renda; mapeamento de casos de discriminação praticada contra trabalhadoras e trabalhadores de religiões de matriz africana e elaboração e divulgação de campanhas para valorização da pluralidade cultural das comunidades tradicionais de terreiro.

ÀWÚRE MARAGOGIPE- BA

Em maio de 2020, durante a pandemia da Covid-19, foi dado início ao Àwúre Maragogipe, projeto do MPT e da OIT que alcança toda a zona rural e urbana do município de Maragogipe.

O projeto se propôs a utilizar a capacidade de articulação e as instalações do Terreiro Alabaxé, em Maragogipe, e apoiar na organização dos quilombolas, pequenos produtores rurais, das marisqueiras e das pessoas que produzem carne de fumeiro para criar mecanismos alternativos de escoamento da produção.

Inicialmente, o projeto pretendia atender 2.500 pessoas, assim distribuídos: 50 pessoas ligadas ao terreiro do Alabaxé, 15 idosos que vivem no local, moradores de sete (07) quilombos – cerca de 210 famílias -, 30 produtores rurais, suas famílias e trabalhadores (as) envolvidos (as), 30 marisqueiras, 30 trabalhadores (as) na manufatura de carne de fumeiro e suas famílias, mas já no cadastramento se chegou a um contingente superior a 3.000 pessoas beneficiadas diretamente e 60.000 pessoas indiretamente, considerando seu impacto na sociedade local  por meio de alternativas de inclusão social e produtiva, que beneficiará o mercado consumidor e produtor local.

Entre as ações do projeto, foram previstos: mapeamento dos produtores da região, incluindo grupos quilombolas, com suas necessidades identificadas e estratégia construída para garantia da devida comercialização; criação de um espaço para que produtores rurais e comunidades quilombolas comercializem seus produtos alimentares e tenham espaço para coleta, beneficiamento, armazenamento e distribuição adequados; produção, no local, de plantas e ervas agroecológicas para comercialização in natura e manufatura e auxiliar na produção local de aves, caprinos, ovinos e suínos.

O projeto prevê que as marisqueiras passem a utilizar um espaço para limpar seus mariscos e armazená-los para comercialização, obedecendo a padrões de higiene de excelência. A mesma lógica será oferecida para os trabalhadores que produzem a carne de fumeiro. O projeto pretende ainda auxiliar a estabelecer um comércio mais justo na região, com menos intermediação e pagamentos coerentes com o mercado.

Considerando que o local abriga a maior variedade de plantas medicinais do país, uma das formas de aumentar a renda é a proposta de fazer uma mandala de ervas, nomear e vendê-las para a comunidade, além de manufaturar para a venda. É importante ressaltar que as instalações possuem água, luz e muito espaço para que todas as atividades e o armazenamento sejam feitos de maneira adequada. Para tanto buscar-se-á o apoio dos órgãos de vigilância sanitárias para orientação sobre boas práticas.

O Àwúre Maragogipe atende ao requisito de sustentabilidade socioambiental e econômica posto que, ao aprimorar seus processos produtivos e suas estratégias de comercialização, as comunidades aumentarão sua rentabilidade e dessa forma garantirão sua sustentabilidade socioeconômica. As ações de assistência técnica, formação, comercialização e extensão rural que serão desenvolvidas pelo projeto buscam a autonomia das comunidades na gestão de seus processos produtivos e comerciais.

A ideia é reconhecer e conhecer a potencialidade de cada lugar, entender seus problemas e construir ações voltadas para a mudança de pensamento e da realidade das comunidades nos munícipios atendidos.