O último episódio da série mostra como os indígenas perderam direitos. Pesquisadores estão descobrindo indícios de participação de representantes de várias etnias em batalhas que aconteceram em quase todas as regiões do país.
Há 200 anos, milhares de brasileiros participaram de guerras para garantir a conquista da Independência do Brasil. No 3º episódio da série de reportagens sobre o bicentenário, a repórter Mônica Sanches mostra que indígenas também pegaram em armas e lutaram, mas perderam direitos logo após o processo de emancipação.
Um grupo que representa mais de 100 famílias indígenas ganhou o título de propriedade de uma fazenda no começo de 2022. A doação foi feita pelo governo do Piauí. A conquista veio após 200 anos de espera.
“A terra era dos índios, de nós, de antigo. Aí o brancos foram e tomaram, aí tomaram, aí de qualquer maneira, a gente agora, eu estou tão satisfeito por causa de nós temos nosso pedacinho de terra para sobreviver”, diz o cacique José Guilherme.
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Cacique José Guilherme fala sobre a alegria de ter a terra de volta — Foto: TV Globo
Ter a terra de volta era o sonho dos Tabajaras que lutaram ao lado de sertanejos e fazendeiros na batalha às margens do Rio Jenipapo, no interior do Piauí. Para o professor de história da UFPI Johny Santana de Araujo, “a grande questão é que é uma história que ficou esquecida, precisa ser elencada na história nacional”.
Em 13 de março de 1823, os soldados portugueses venceram a batalha. Foram cerca de 400 mortes entre os brasileiros, que lutaram com as armas que tinham. Cicero Evangelista Dias, liderança indígena, falou sobre os mortos em batalha.
“Tinham pessoas que estavam armadas de foice, de enxada, de flecha, de pedra. Quem eram essas pessoas que estavam lá armadas de foice e de pedra? Eram os índios, que foram quem morreu, também na defesa do seu território, na defesa da sua independência”, disse Cícero.
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Cícero Evangelista lembra dos índios mortos em batalha — Foto: TV Globo
Um documento de outubro de 1822 é um raro registro de participação política dos indígenas na Independência. Um manifesto assinado por vereadores indígenas apoiando Dom Pedro.
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Raro registro de participação indígena na vida política do Brasil — Foto: TV Globo
“A Independência aconteceu e poucos anos depois, eles perderam tudo. Nem a terra que tinham conseguiram garantir. As terras, os cargos políticos nas Câmaras municipais, as patentes militares que muitas comunidades tinham, então, em menos de 10 anos esses povos indígenas perderam tudo”, conta o professor de História da UFPI João Paulo Peixoto.
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João Paulo fala sobre as perdas dos povos indígenas — Foto: TV Globo
Pesquisadores estão descobrindo indícios de participação de representantes de várias etnias em batalhas que aconteceram em quase todas as regiões do Brasil. Na Bahia, a imagem do caboclo, criada em 1826, representa um guerreiro que lutou pela Independência e atrai multidões nas festas populares que comemoram a vitória contra as tropas portuguesas.
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Homem vestido de caboclo durante festa na Bahia — Foto: TV Globo
A Constituição de 1824, outorgada por Dom Pedro, nem cita os indígenas. Eles não tiveram a cidadania reconhecida, e nenhum direito garantido. A destruição das florestas foi registrada por artistas da época.
“Essa forma predatória de lidar com o meio ambiente, os recursos naturais, a água, a terra, o subsolo, que existiu durante todo o período colonial e à época da Independência, infelizmente se mantém hoje. Então, é uma ferida aberta ainda essa questão de a gente pensar a autonomia do Brasil, mais do que a autonomia, soberania brasileira, pensando a preservação ambiental, que é uma questão talvez das mais dramáticas nos dias de hoje”.
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Jurandir Malerba fala sobre a forma predatória de lidar com o meio ambiente — Foto: TV Globo
Fonte: Globo.com (https://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2022/09/06/entenda-como-foi-a-participacao-dos-indigenas-na-luta-pela-independencia.ghtml)