Felipe Caetano tem 19 anos e éativista social, estudante de direito, conselheiro jovem do UNICEF Brasil e cofundador dos comitês de adolescentes pela prevenção e erradicação do trabalho infantil. Natural de Aquiraz, no Ceará, Felipe começou a trabalhar aos 8 anos de idade para ajudar a família. Em 2014, ao entrar no Núcleo de Cidadania dos Adolescentes, organizado pelo UNICEF em seu município, começou a conhecer seus direitos e seu papel como cidadão. O adolescente parou de trabalhar e passou a defender os direitos de outros meninos e meninas.
Durante a pandemia do COVID-19, “as veias abertas” do Brasil ficaram ainda mais expostas. Feridas históricas, que representam as chagas sociais, se tornaram ainda mais dolorosas com o aumento da pobreza, da fome e da vulnerabilidade humana. Pudemos observar o apartheid social existente em nosso país, que ficou ainda mais evidente, colocando de um lado, pessoas que aumentaram ainda mais as suas riquezas e de outro lado, pessoas que necessitaram fazer fila para receber doações de ossos em açougues. Com as crianças não foi diferente. Em um dos piores momentos da pandemia, onde a média móvel de mortes era de 2.500 por dia, as crianças continuavam a serem expostas à exploração de seu trabalho e ao contágio da doença.
Estimativas do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) apontam que, entre 2016 e 2020, houve um aumento de 8,4 milhões de casos de trabalho infantil no mundo, o que também refletiu em nosso país. Basta-nos observar o perfil das crianças trabalhadoras em nosso país, veremos que cerca de 66% são pretas e pardas, bem como que 50% possuem uma renda mensal per capta inferior a meio salário mínimo (IBGE, 2020). São crianças pertencentes aos grupos mais vulnerabilizados de nossa sociedade, os negros e pobres. Estas são as crianças, que, por conta do CEP onde nasceram não podem ter o direito básico de ser criança.
Enquanto muitas crianças ganham chocolates, outras são exploradas e escravizadas na produção do cacau. Enquanto crianças ganham roupas, outras sofrem acidentes de trabalho na produção destes itens e de muitos outros. Enquanto muitas aproveitam de fato a infância, outras só são crianças por conta de sua idade e nada mais. Estas questões nos fazem refletir ainda mais sobre o questionamento do escritor moçambicano, será que podemos, realmente, chamar de criança um ser cuja essência de ser criança já não existe mais? Não sabemos quais crianças ganharam brinquedos nesta data, mas sabemos quais crianças devem ter direitos e serem tratadas com dignidade: todas as crianças!