“Apesar de eu já ter uma história como liderança juvenil e estudantil da ilha de maré, me considero agora também um jovem comunicador.” É com orgulho que o jovem Gabriel Silva Luciano, morador de Ilha de Maré, na Baía de Todos os Santos(Ba) fala sobre os aprendizados no projeto Àwúre Recôncavo, iniciativa do Ministério Público do Trabalho(MPT), da Organização Internacional do Trabalho(OIT) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância(UNICEF). “O projeto mostrou pautas da realidade e como poderia extrair, e promover, ações para a cidadania, com um olhar mais específico aqui na Ilha de Maré, o desenvolvimento na comunicação das dificuldades que tínhamos e temos, não tendo apoio, somente dos movimentos internos, mas, também, com parceiros externos, como rádios comunitárias; com o jornalismo e com os órgãos competentes”, disse Gabriel.

O Projeto Àwúre , que, no Recôncavo Baiano, tem como parceiros técnicos a Plan International Brasil e o Instituto Aliança, busca, com suas ações, a promoção da diversidade e inclusão de adolescentes e jovens em programas de empregabilidade e aprendizagem; enfrentamento ao racismo, sexismo e intolerâncias religiosas; superação da evasão escolar; prevenção e enfrentamento dos homicídios de adolescentes e jovens; e fortalecimento das redes comunitárias de proteção à criança e suas famílias. Segundo o Monitoramento dos Alcances do Projeto Àwúre Plan International Brasil, a dimensão referente ao Plano macro das campanhas, incluindo iniciativas de formações continuadas para 100 profissionais da rede de proteção infantojuvenil do Recôncavo Baiano e Salvador, obteve o alcance total de 2.361 pessoas, no primeiro semestre de 2021.
Já o curso de Comunicação e Direitos Humanos, ministrado pelo Instituto Aliança no âmbito do projeto Àwúre Reconcavo produziu 24 peças de comunicação (fanzine, podcast, radionovela, cards e vídeos), 03 lives realizadas pelos jovens discutindo: racismo, sexismo e intolerância religiosa. As peças de comunicação atingiram mais de 180 mil pessoas até hoje (ultrapassando a meta de 125 mil) e foram certificados 105 jovens dos 09 municípios do Recôncavo Baiano e Salvador. A chefe do Escritório do UNICEF em Salvador, Helena Oliveira, comenta como o Àwúre Recôncavo se fez presente na vida da população considerando os dois grandes propósitos para aquela Região.

“O primeiro, fazer o enfrentamento das piores formas do trabalho infantil, por meio das ações Intersetoriais já existentes nas políticas para a infância nos próprios municípios, estimulando, a partir disso, redes integradas de proteção à criança, ao adolescente e aos jovens, mais fortalecidas para prevenir novos casos ou situações culturalmente arraigadas de aceitação das violências contra esses três públicos”. Helena complementa: “O segundo, ao escolher aquela região tradicional do estado da Bahia, o projeto visou, aprendendo com a realidade vivenciada pelos atores locais ( lideranças comunitárias, jovens, adolescentes e atores da gestão municipal), fomentar a elaboração de políticas públicas municipais que, ao mesmo tempo, em que promovem a saúde, educação e a assistência social, reduzam as desigualdades raciais, de gênero e as intolerâncias – reconhecidas como determinantes estruturais das demais violações de direito, como, por exemplo, o trabalho infantil ou a exploração sexual. Neste sentido, a importância do projeto está na possibilidade de contribuir com a mudança de percepção, e atitudes dos atores locais; contribuir para a construção e o aprimoramento de políticas e programas mais focalizadas e assertivas na redução das desigualdades e no enfrentamento às piores formas de violência contra criança, e; contribuir sobre como lideranças e comunidades locais e tradicionais podem buscar, e exigir, serviços e atendimentos públicos humanizados e baseado nos direitos humanos fundamentais para acessar seus direitos. Ainda não é possível medir as mudanças na vida das pessoas por conta do curto tempo de implementação do projeto. Contudo, os resultados da Pesquisa de Percepção, realizada no âmbito do projeto, e o Curso de Direitos Humanos e Comunicação, para adolescentes e jovens, revelaram a contribuição do Projeto Àwúre na vida dessas pessoas.”
Fazendo a diferença, o projeto tem transformado a vida de vários jovens da região.

“O projeto Àwúre me ajudou a ver, com outros olhos, as coisas que pareciam diferentes para mim. Me ensinou a ver que somos todos iguais e, que, cada religião, cada pessoa, tem uma forma de ver o mundo, e, que, todas elas são válidas e essenciais. Mudou a minha forma de pensar, pois eu sentia um certo “medo” do que era diferente para mim. Me ajudou a ver que temos o outro como suporte e, que, tudo que nós temos é o outro”, comentou Thaissa Santos, jovem que participou do Àwúre Recôncavo.
Já Tamires Santana, da Comunidade do Quilombo do Dendê, da Cidade de Maragogipe (BA), que também participou do Projeto Àwúre Recôncavo, fala sobre o crescimento da turma e também pessoal. A jovem fez parte do curso ‘Habilidades para Vida’, do qual participaram 510 adolescentes e jovens, entre 14 e 21 anos, que foram mobilizados/as, selecionados/as e treinados/as.

“Participei do curso de ‘Habilidades para a vida’ onde se discutiu vários temas, entre eles a empregabilidade juvenil. Observei que, no decorrer do curso, a turma evoluiu quanto à desenvoltura, pois no início todas as meninas estavam tímidas e receosas e, no final, foi totalmente diferente, todas estavam sem timidez nenhuma. Foi um crescimento pessoal. Através deste curso, construímos o Núcleo de apoio Juvenil aos Direitos da Juventude, e dentro desse núcleo, pensamos em uma forma de dar uma renda a essas jovens, onde estamos desenvolvendo uma horta, tendo a renda voltada diretamente aos jovens que fazem parte desse núcleo. O projeto em si, particularmente, foi bastante gratificante. Eu pude participar do curso de capacitação para fazer o vestibular, e hoje eu consegui entrar numa faculdade e estou cursando Pedagogia, tudo isso graças ao projeto. A palavra que define o Àwúre é gratidão”.