No mês em defesa dos direitos, cultura e ancestralidade indígena a live do “Diálogos Àwúre” abordou: Saúde, segurança e trabalho dos povos indígenas na pandemia. Para debater o assunto, o evento online contou com a participação da especialista em Saúde Mental Indígena, Luciane Ouriques, o radialista e empresário, Anápuàka Muniz, o Procurador Regional do Ministério Público do Trabalho (MPT) do Mato Grosso do Sul, Dr. Jonas Ratier Moreno, a Oficial técnica de Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho/ OIT, Thais Faria, a mestre em Geografia, poetisa e escritora, Márcia Kambeba, a também poetisa, artista plástica e pesquisadora Narubia Werreria e com a apresentação e mediação da cantora e compositora, Thaline Karajá, indígena Iny- Karajá.
O Dialogo foi realizado através do Canal Àwuré, que faz parte do projeto do Ministério Público do Trabalho (MPT), da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e do Fundo das Nações Unidas Para a Infância(Unicef), buscando promover o respeito pela identidade, diversidade e pluralismo de comunidades tradicionais, incluindo povos indígenas, negros, quilombolas e de praticantes das religiões de matriz africana, para combater a discriminação, a intolerância e o racismo. Lançado em novembro de 2019, o canal é um importante espaço aberto para denúncias e é usado para o fortalecimento dessas comunidades.
Segundo o boletim epidemiológico da Secretaria Especial de Saúde indígena, ligada ao Ministério da Saúde, mais de 600 indígenas morreram de Covid-19 no Brasil desde o começo da pandemia em 2020.
“O próprio avanço do processo da globalização, que estimulou a andança dos indígenas e a fundação que poderíamos dizer sociedade translocais, apesar dessa dinâmica sócia espacial o subsistema não foi atualizado para atender as especificidades da população. Então, essa dicotomia, que os indígenas que residem na área urbana e vão visitar seus parentes, acabou sendo uma das grandes dificuldades de se pensar uma estratégia eficaz para o enfrentamento dos povos indígenas”, disse a Dra. Luciane Ouriques.
Por sua vez, o indígena Tupinambá hã hã hãe, Anápuàka Muniz falou da importância da comunicação. “A comunicação é extremamente essencial. Se não fosse a comunicação nós estaríamos em um estágio pior no país. A comunicação é uma ferramenta de potência, e as ferramentas etnomidiaticas, ai entra o contexto da primeira rádio indígena, a rádio Yandê, sendo ela uma mídia etnomidiaticas que fala diretamente com os povos indígenas e os povos indígenas falam com a rádio de forma nacional. Ela tem essa força de amplificar vozes, territórios, movimentos de base, construir diálogos, sendo ela uma potência de luta e não apenas uma comunicação institucional, não tendo um formato das mídias não indígenas”.
Já o Procurador Regional do MPT do Mato Grosso do Sul, Jonas Ratier, explicou as ações do MPT e o grupo de trabalho criado para o combate a Covid-19. “A primeira coisa que o MPT fez foi constituir um grupo de trabalho, intitulado (GT COVID-19), em uma reunião de todas as coordenadorias e setores do MPT, para formular ações de prevenção e combate aos efeitos da pandemia para proteção dos trabalhadores do Brasil. Fizemos isso focando em diretrizes a serem observadas por empresas, pessoas físicas ou contratantes, pedindo para assegurarem à proteção a saúde, a cultura, igualdade, oportunidades e o combate à discriminação. Durante esse período foram espedidas 26 notas técnicas, que são estudos feitos para demonstrar e apresentar os caminhos para serem observados e praticados pelas empresas”.
A Oficial técnica de Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho da OIT, falou as consequências mais claras e graves dos indígenas diante do cenário que estamos vivendo. “Primeiro o aumento da pobreza e da miséria, pois se diminuiu ou eliminou a renda, considerando que os indígenas perderam a capacidade de produzir em seu território. Muitos dos grupos não são autossustentáveis em relação à produção de alimentos para sobrevivência básica, que cria uma situação mais grave ainda, chegando a uma situação muito grande de vulnerabilidade, tanto ao trabalho forçado, como o trabalho infantil, exploração sexual de crianças e adolescentes indígenas. Porque quanto mais exposto é o grupo, quanto mais a situação de pobreza, miséria e desproteção aquele grupo está, maior a vulnerabilidade de entrar em situações de violência e exploração”, disse Thaís Faria.
Segundo o último censo do IBGE, no ano de 2010, o Brasil tinha 818 mil indígenas, representando 305 diferentes etnias.
Em 2012, depois de muita luta, foi criada Politica Nacional de Gestão Territorial e ambiental de terras indígenas que prevê a preservação, recuperação e o uso sustentável dos recursos naturais das terras indígenas.
Questionada sobre a questão ambiental, a ativista indígena Marcia Kambeba se mostra otimista. “O nosso caminho, é um caminho de muita luta e resistência. Nós ainda precisamos fortalecer mais as nossas forças, somar com as forças das pessoas que são simpatizantes e tem o trabalho de fortalecer a nossa cultura. Temos a busca de que ainda chegará o dia em que as pessoas entenderam o que é o bem-viver, as pessoas entenderão a importância dessa relação intrínseca, homem e natureza. Será um momento em que as pessoas compreenderam que sim, elas são a própria natureza! Não somos nós indígenas os protetores da natureza, nós somos a própria natureza. Sou poeta, sou sonhadora e acredito que ainda chegará esse dia”.
Em seguida a também poeta e artista plástica, Narubia Werreira, falou como a arte influencia na educação. “A educação sem arte é a estrela sem brilho. Pensar educação só através de notas de vestibular ou através de emprego é você diminuir muito a educação, ou o processo de conhecimento diante da vida. A arte faz parte dessa vida que é deslumbrante, que nos instiga o tempo todo a conhecer e, a saber, mais por encantamento. Para nós, a educação não indígena é uma educação que perdeu a vivacidade, ela se desencontrou desse encantamento do conhecer, ela está em atribuição do se ter, de se conseguir um posicionamento, de conseguir uma nota maior, de uma competição criada pelo homem. Onde não se percebe que a real riqueza não tem preço”.
Com sua voz de resistência e ancestralidade, a cantora Thaline Karajá mediou e encantou a live. Além disso, a live contou com momentos emocionantes, como quando a Thaís Faria da OIT, pediu um minuto de silêncio para homenagear as vítimas de Covid-19.
“Aqui no Brasil infelizmente chegamos a triste marca de 400 mil mortos por conta da covid-19. Peço em nome do projeto Àwúre, um minuto de silêncio em memória de todas essas vítimas que tristemente se foram nesse tempo por conta dessa doença e mostrar o nosso reconhecimento e todo nosso esforço para que todas essas vidas e as próximas sejam poupadas e que nós não sigamos passando por essa tristeza permanente a essas perdas”.
Para acessar a live, que está disponível no YouTube, basta clicar no link.