O Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-americana e Caribenha é celebrado em 25 de julho. Para comemorar a data, o Àwúre, projeto de iniciativa do Ministério Público do Trabalho (MPT), Organização Internacional do Trabalho (OIT) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), realizou uma live com o tema “Mulher Negra, oportunidades e desafios”.
A luta das mulheres não é de agora: as dificuldades, as superações e as conquistas vêm de longa data. Apesar disso, ainda há muito a ser falado sobre o tema e muito a ser conquistado.
Nesse sentido, o evento online discutiu temas como as vivências pessoais de mulheres negras e os principais desafios no mercado de trabalho, quais barreiras elas ainda enfrentam no cotidiano. A live contou com a participação da Procuradora do Trabalho do MPT do Rio de Janeiro, Silvana da Silva, a estudante, ativista e Mãe do Miguel Otávio, Mirtes Renata, a professora de história e Integrante da Rede de Mulheres Negras da Bahia, Ekeje Letícia Ganbelegé, a coordenadora de Implementação de Programas Sociais na Fundação Itaú Social, Sonia Dias e a Oficial Técnica em Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho da OIT, Thaís Faria. A apresentação ficou por conta da atriz, poetisa e cantora, Elisa Lucinda.
Em meio à pandemia, relatos em grande quantidade mostram direitos não cumpridos e empregadores sem empatia, especialmente quando se trata de trabalhadores(as) do serviço doméstico. Para a procuradora do Trabalho do MPT do Rio de Janeiro, Silvana da Silva, a PEC das Domésticas, de abril de 2013, chegou bastante tarde.
“Embora a legislação tenha sido promulgada recentemente dentro da nossa história, da nossa sociedade, é uma lei recentíssima e veio muito tarde. As domésticas têm toda uma legislação e esse vínculo familiar acaba fragilizando muito a mulher que está no seio dessa família, então esse trato com afeto e carinho acabam mascarando uma relação de emprego que está ali na realidade e pode levar a uma mistura da vida pessoal com a vida de trabalho de uma forma equivocada. Isso é muito importante, pois o trabalho não pode ser invasivo”
Após a morte do filho de cinco anos em um edifício em Recife, a ex-funcionária do lar Mirtes Renata de Souza tornou-se ativista na luta contra o racismo no Brasil e transformou o luto em luta, Mirtes atualmente é estudante de Direito.
“Diante da situação toda com o racismo, o classicismo dentro do processo do Miguel, eu me vi no desejo de fazer faculdade de Direito para entender melhor a questão do andamento do processo e lá na frente poder ajudar outras mães a não passar pelo que venho passando hoje dentro do judiciário Pernambucano, onde está havendo um descaso dentro do processo do Miguel”, declarou.
A professora de história e integrante da Rede de Mulheres Negras da Bahia, Ekeje Letícia Ganbelegé chamou a atenção para o racismo do cotidiano. “Nós, da Rede de Mulheres Negras da Bahia, nas nossas conversas, nas nossas formações adotamos uma pedagogia nova, se chama pedagogia do “escabreamento”, que é você escrachar racistas, é fazer eles passarem vergonha, expor quando surgir aquela piada racista infame, você fala, “Não entendi, você pode explicar, pois eu não estou entendendo o que você quer dizer?”, a partir daí eles se colocam no devido lugar, havendo uma reflexão sobre o quão racista estão sendo.”
Já a coordenadora de Implementação de Programas Sociais na Fundação Itaú Social, Sonia Dias comentou o quanto é necessário que grandes empresas avancem em sua diversidade, por mais desafiador que isso possa ser.
“As empresas, todas elas, fundações ou institutos também precisam de verdade querer construir um ambiente mais diverso, saber que um ambiente mais diverso representa inovação. Na nossa sociedade, isso também irá representar um desafio, pois temos uma sociedade estruturada em relação ao racismo, então não vai ser fácil. Agora, cabe a cada empresa, cada instituto ter um compromisso com a diversidade, ter metas, objetivos e acompanhar suas ações de diversidade para que de fato ela possa avançar nesse aspecto. Nós não estamos falando de um problema da população negra, esse é um problema da nossa sociedade”.
A Oficial Técnica em Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho da OIT, Thaís Faria, complementou.“A gente ainda tem uma história que eu falo que ainda é difícil sair dela, a nossa história de construção é tão cheia de estereótipos, estigmas e exclusões que até hoje a gente vem brigando, ressignificando, construindo e na primeira crise, ou primeira situação que nós passamos de mais gravidade, parece que volta tudo a uma situação que era colonial de conforto, onde você tem aquelas poucas pessoas no poder e aquelas outras que irão seguir e obedecer. Quanto mais conhecimento, quanto mais palavra e capacidade de expressão você tem, menos você é controlado (a), por isso é potente o trabalho que nós fazemos apesar de ser tão pequeno”.
Elisa Lucinda concluiu a live citando palavras do cantor, compositor e rapper brasileiro Rael da Rima.
“Melhor irem se acostumando, vão ter que se adaptar. As pretas com o din gastando, sem se preocupar. E pra contrariar seus planos, nas grades não vamos ficar. Unidos, se fortificando, ei, quem vem lá!”.
O Àwúre reafirma o compromisso com as mulheres negras latino-americanas e caribenhas que resistiram – e ainda resistem – e lutam contra o racismo, o machismo e o patriarcado, presentes ainda hoje em nossa sociedade.
Se você perdeu a live de julho e quer ver tudo que foi discutido, acesse o link.