A luta de décadas da Cacica Ñandesy Damiana, grande guerreira dos povos Kaiowá e Guarani, pela demarcação da terra indígena Apykay – hoje ocupada ilegalmente pela Usina São Fernando em Dourados, no Mato Grosso do Sul – perdurou até seu último suspiro. Damiana nos deixou no dia 7 de novembro sem ter seu direito à terra reconhecido, após muitos anos vivendo em barracos de lona preta e restos de tábua, às margens da BR 463, entre a violência do agronegócio e o descaso do poder público.
Em nota, a Kuñangue Aty Guasu, Grande Assembleia das Mulheres Guarani e Kaiowá, destacou: “Damiana e toda a comunidade sofreram vários despejos, foram muitas longas estadias às margens da BR-463, em Dourados/MS, sofrendo inúmeras violações, invisibilizada aos olhos do Estado Brasileiro, convivendo com as várias mortes de suas parentelas”.
Vivendo o drama que infelizmente permeia a existência de muitos povos indígenas no Brasil, Damiana sempre foi vista como “invasora”, estrangeira em sua própria terra originária. Aos 81 anos, ela descansou da luta de toda uma vida, deixando como eco suas rezas ancestrais e sua demanda pelos direitos que, junto de sua comunidade, lhe foram negados. Em suas demandas, Damiana sempre pediu que quando morresse, que seu corpo fosse devolvido à sua terra nativa Apyka’i, que hoje, infelizmente, está tomada pelo latifúndio.
A Kuñangue Aty Guasu, Grande Assembleia das Mulheres Kaiowá, finaliza a nota em uníssono: “Que as nossas ancestralidades confortem o coração de todos que estão tristes com a morte cruel da Ñandesy Damiana”, reafirmando que a luta pela demarcação dos territórios Kaiwoá e Guarani no Mato Grosso do Sul continuará.
Assista ao documentário “Apyka’i – Os mortos não têm voz” com a participação da Cacica Damiana.