De acordo com dados do Conselho Missionário Indígena (CIMI), o número de suicídios entre indígenas cresceu 20% nos anos de 2017 e 2018. O Ministério da Saúde registrou uma média nacional de 5,7 óbitos para 100 mil habitantes. Na população indígena, foi registrado um número de óbito por suicídio três vezes maior que a média nacional. Destes registros, 44,8% são suicídios de crianças e adolescentes indígenas entre 10 e 19 anos. Conflitos interpessoais, transtornos mentais, problemas familiares, abuso de substâncias e contextos sociais e culturais são alguns dos fatores que devem ser levados em conta para a ocorrência de suicídio nessa população.
No Setembro Amarelo, mês de prevenção ao suicídio, o Àwúre, iniciativa do Ministério Público do Trabalho (MPT), da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), se solidariza e divulga informações para prevenir o suicídio entre as populações atendidas pelo projeto.
Desde 2019, a psicóloga Iterniza Pereira, Indígena do Povo Macuxi, faz parte do Conselho Indígena de Roraima. Inicialmente seu trabalho era desenvolvido por meio de palestras, mas com a chegada da pandemia, ela passou a trabalhar diretamente com as famílias indígenas.
“A questão do suicídio dentro das comunidades indígenas é algo bastante delicado e que deve ser, antes de mais nada, compreendido. Existem diversos fatores que ativam esse gatilho. Mas uma coisa é muito clara, quanto mais perto da zona urbana, maior é o índice.”, relata Iterniza.
Para o CIMI, a taxa de suicídio entre os indígenas é um conjunto de fatores e sentimentos de desesperança, em que o indivíduo se vê em uma condição sem saída. No caso dos indígenas, o “pertencimento” a algo ou a falta desse pertencimento – não pertencem ao mundo branco regido pela ordem capitalista, mesmo que por vezes almejem o que o branco faz ou o que o branco tem – influencia no desequilíbrio psicológico.
Entretanto não é apenas o fator social que determina. A vivência do processo de luto para os indígenas também pode afetar a saúde mental, em tempos de restrições e mortes de parentes causadas pela pandemia de COVID-19.
“Na cultura Macuxi, por exemplo, o luto é um período em que estamos muito vulneráveis a espíritos malignos. Ficamos mais de 3 meses reclusos, longe da rotina da aldeia, sem ir à mata. Essa reclusão é necessária para nosso povo e, caso não a façamos, estamos sujeitos a influencias negativas desses espíritos malignos que, quando incorporadas, muitas vezes levam ao suicídio. Hoje, podemos estudar e compreender muitas das causas, mas jamais devemos deixar de lado nossa cultura.”, explica Iterniza
A demarcação de terras é outro fator que pesa muito, principalmente no aspecto psicológico da população indígena. Terras demarcadas em área suficiente é essencial para o bem-estar coletivo e para a saúde das populações indígenas. Entretanto, somente ela não esgota os desafios de sobrevivência. As relações pouco favorecidas com o estado brasileiro também afetam a saúde desses povos.
O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atende voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail e chat 24 horas todos os dias. No site do CVV (https://www.cvv.org.br/), a pessoa acessa facilmente um desses canais.