Mesmo quem não compreende o idioma dos Mebêngôkre percebe a habilidade e a eloquência de Raoni como orador, uma qualidade muito valorizada na cultura Kayapó. O adorno que leva em seu lábio inferior, o labret, foi colocado na boca aos 15 anos, com a ajuda do irmão Motibau. Para os Mebêngôkre, o labret é “uma marca de reconhecimento dos guerreiros prontos a morrer por sua terra”. Nada define melhor o cacique.
Raoni modula o tom de voz, faz pausas calculadas e então retoma o discurso, apontando e citando pessoas que vê diante de si, na plateia. Em seguida, puxa de trás da cadeira um mapa de seu território. Neste momento, seu neto Patxon Metuktire passa a traduzir suas palavras para o português – até então, só os falantes da língua Mebêngôkre acompanhavam o discurso. Raoni aponta para o mapa no chão à sua frente e, dirigindo-se à ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, anuncia: “Quero ampliar nosso território nesta linha”, enquanto indica uma área na divisa entre as terras indígenas Capoto/Jarina, ao sul, e Kapôt Nhinore, ao norte.
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Fonte: Sumauma