Organizada pela Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade, o tema da marcha de 2023 foi Mulheres Biomas em Defesa da Biodiversidade pelas Raízes Ancestrais.
A terceira edição da Marcha das Mulheres Indígenas aconteceu em Brasília, entre os dias 11 e 13 de setembro contou com a presença de mais de 8 mil lideranças femininas dos seis biomas brasileiros, além de mulheres indígenas de todo o mundo.
O evento foi organizado pela Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade.
Programação
A programação do movimento contou com rodas de diálogo, grupos de trabalho, plenárias e debates sobre o papel das mulheres indígenas nas lutas dos povos originários, no Complexo Cultural Funarte.
No primeiro dia (11), além da abertura, plenárias sobre representatividade política e debates sobre emergências climáticas, biodiversidades, reflorestamentos, violência de gênero, saúde mental, acessibilidade e educação, houve o lançamento da cartilha de combate à violência de gênero. O material é resultado de um ano de escuta de relatos nas comunidades país afora e é um lançamento da ANMIGA para informar sobre os tipos de violência, como enfrentar e procurar ajuda.
‘Basta de violência, chega! Está na hora do Estado pensar em políticas públicas junto conosco, para que a gente possa enfrentar as violências, para que a gente possa pensar quais são os caminhos, ouvindo as mulheres indígenas. Não mais pensar por nós, mas pensar conosco”, frisou a doutora em Antropologia e atual chefe de Gabinete do Ministério dos Povos Indígenas, Joziléia Kaingang.
A cartilha em breve poderá ser baixada de modo online e gratuito no site da ANMIGA.
Mulheres indígenas de diversas etnias se reuniram com representantes da Organização Internacional do Trabalho (OIT) para uma escuta das suas demandas sociais e para fortalecer a parceria em favor do movimento indígena feminino.
Na terça-feira (12), houve uma conversa com a coordenadora regional do Sul do Pará, Ô-é Paiakan Kaiapó; a coordenadora-geral de Promoção da Cidadania (CGPC), Núbia Tupinambá; a coordenadora de Gênero, Assuntos Geracionais e Participação Social substituta (Cogen), Lidia Lacerda; e outras lideranças Kaiapó presentes na Marcha, para ouvir as demandas das mulheres e se disponibilizar para a construção de projetos e ações, em conjunto, que tenham como principal foco o fortalecimento e a participação social das mulheres indígenas nos espaços de decisão.
Na quarta-feira (13), o movimento levou as mulheres a tomarem as ruas da capital brasileira. O grupo caminhou da Fundação Nacional das Artes (Funarte) até a Praça das Bandeiras, percorrendo toda a Esplanada dos Ministérios.
Potencializando suas demandas, as participantes da marcha levantavam cartazes com os dizeres: “Não à violência contra as mulheres da floresta”, “Ecoando vozes para assegurar o futuro” e “Demarcação já aos indígenas do Brasil”. Durante toda a caminhada, as indígenas entoaram cantos dos diversos povos presentes, numa manifestação pacífica por seus direitos.
Estiveram presentes durante os três dias do movimento, diversos representantes da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), dentre eles a presidenta do órgão, Joenia Wapichana, que, durante a caminhada, chamou a atenção para a importância das mulheres indígenas em todas as esferas de atuação da sociedade.
Wapichana destacou o protagonismo inédito das mulheres indígenas nos cargos representativos do governo federal e reafirmou a força nata de todas.
“As mulheres indígenas são resistentes, são resilientes, são sábias por natureza. Não é à toa que temos uma ministra dos Povos Indígenas, não é à toa que temos parlamentares mulheres e não é à toa que temos uma presidenta da Funai. Temos secretárias, coordenadoras, professoras, advogadas. Nós somos guerreiras e não desistimos nunca da nossa luta”, destacou.
Na oportunidade, as ministras dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara; do Meio Ambiente, Marina Silva; da Igualdade Racial, Anielle Franco; das Mulheres, Aparecida Gonçalves; e da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luciana Santos, estiveram presentes em debate sobre o manifesto entregue no início do ano, na Pré-marcha, denominada “Vozes da Ancestralidade dos 6 biomas do Brasil”. O encerramento do evento ficou por conta de artistas indígenas mulheres e convidadas, com o tema A Cura Do Mundo Somos Nós.
Confira fotos da III Marcha de Mulheres Indígenas.
Confira a programação completa e conheça a ANMIGA.
Convenção 169 na língua indígena Kayapó
Visando fortalecer a participação indígena nas tomadas de decisões acerca do que é relevante para sua sobrevivência e desenvolvimento, foi lançada a tradução da Convenção 169 da OIT na língua Kayapó, no dia 11, em paralelo com a III Marcha das Mulheres Indígenas.
Resultado de uma iniciativa conjunta do Supremo Tribunal Federal (STF), da Procuradoria-Geral da República (PGR) e da OIT, o documento foi entregue na segunda-feira (11) pela ministra Rosa Weber ao cacique Raoni e a vários integrantes do povo Kayapó.
Durante a cerimônia, a presidenta do Supremo, Rosa Weber, destacou que a Convenção 169 é um poderoso estatuto protetivo para os povos indígenas e as comunidades tradicionais e enaltece suas culturas e formas de vida. Weber pontuou ainda que o principal objetivo do documento é reconhecer os direitos dos povos indígenas sobre as terras e os recursos naturais, assim como seu direito de decidir sobre suas próprias prioridades.
A presidenta também aproveitou para declarar seus votos de apoio às pautas da III Marcha das Mulheres Indígenas, que marcaram presença durante o lançamento da tradução: “Meu entusiasmo é especial por estar entre um público majoritariamente feminino, grandes protetoras das culturas das comunidades tradicionais e guardiãs de seus povos”.
Leia a íntegra da versão em Kayapó da Convenção 169 da OIT.