Gerson Brandão é Mestre em Direitos Humanos pela Universidade de Estrasburgo, Doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Liverpool e possui mais de 20 anos de experiência trabalhando em zonas de conflito armado.
Entre as 33 principais crises humanitárias ao redor do mundo no ano de 2021 (do Mali aos Territórios ocupados na Palestina, da Síria ao Afeganistão). 18 conflitos estão diretamente relacionados a questões religiosas. O fundamentalismo incapacitou vizinhos e amigos de se verem como semelhantes, a intolerância construiu muros e barreiras, reais ou virtuais, onde não existe mais respeito entre as pessoas. E, onde as minorias são condenadas simplesmente por não professarem a fé do mais forte, que detém o poder.
Algo em comum deve ser notado em todos os conflitos, e que se torna ainda mais evidente nos conflitos onde uma base de apoio foi construída através da religião e a utilização da comunicação como instrumento de manipulação da fé, ou o uso da comunicação como o veículo que constrói narrativas para um projeto de poder ancorado no medo e na separação entre as pessoas.
Um estudo de 2018 realizado por três pesquisadores do renomado Instituto de Tecnologia de Massachusetts(MIT), notícias falsas têm 70 por cento mais probabilidade de serem retuitadas do que histórias verdadeiras. A análise descobriu ainda que a verdade demora cerca de seis vezes mais do que a mentira para chegar a 1.500 pessoas!
O que há por trás das notícias falsas?? Qual é a motivação, é deliberada e política, ou é um caso de simples ingenuidade? Perguntas para as quais existem muitas respostas, mas onde hoje se entende que sem o apoio estatal e suporte financeiro, notícias falsas não teriam o mesmo impacto e extensão.
Na 74ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em 27 de setembro de 2019, vinte e sete países, incluindo França, Reino Unido, Costa Rica, Tunísia e a Índia, assinaram um acordo que visa impedir a disseminação de ‘notícias falsas (fake news)’.
Esses 27 países, o Brasil ainda não faz parte desse movimento, se comprometem a promover informações independentes e confiáveis na Internet, sob um acordo iniciado por uma entidade fiscalizadora da liberdade de imprensa, a ONG francesa Repórteres Sem Fronteiras!
Esse movimento de combate às notícias falsas, quando consolidado, tende a impactar positivamente na resolução de conflitos em várias partes do mundo. Existe consenso formado que os motivos que levam à guerra são as “verdades” construídas por narrativas bem orquestradas que ao final, servem a um determinado projeto de poderonde quase certamente as minorias serão oprimidas ou, direitos serão suprimidos se este projeto vier a ter sucesso!
Paz, estabilidade e progresso não vão florescer sem respeito mútuo e solidariedade e nada disso acontecerá enquanto a coesão social continuar sendo metodicamente combatida por discursos de ódio religioso. Dessa forma, mesmo que o Brasil não faça parte do movimento iniciado para combater as chamadas fake news, existem mecanismos no país, como a Lei nº 11.635 que nos permite combater a intolerância religiosa.
Enquanto houver guerra, não haverá paz e enquanto a fé fizer parte de um projeto político, não haverá progresso social. O Líbano e o Afeganistão são apenas alguns dos muitos exemplos do quanto é importante dissociar templos religiosos de interesses políticos.