“Já havia diversidade étnica do Brasil muito antes da chegada do colonizador em Pindoram,; quando em média 1.000 povos diferentes habitavam o território que hoje chamamos de Brasil, segundo dados publicados pela Funai. Nos primeiros dois séculos de colonização, vieram para o Brasil cerca de 100 mil portugueses, uma média anual de 500 imigrantes. No século seguinte, esse número aumentou: foram registrados 600 mil e, a partir daí, a média anual passou a ser de 10 mil imigrantes portugueses, que implementaram a política do tráfico negreiro.” Explica Tiago Kfuzo Nagô, embaixador da cultura afroindígena e membro do Grupo de Trabalho Povos Originários e Comunidades Tradicionais do Ministério Público do Trabalho(MPT).
Diversidade cultural é a junção de diversos costumes de uma sociedade. Culinária, tradições, manifestações religiosas, vestimentas e uma infinidade de outros aspectos que fomentam uma cultura. Em nosso país, os atores principais dessa formação foram os colonizadores europeus, a população indígena e os povos africanos escravizados. Além disso, a diversidade cultural também está presente no sentimento de aceitação de cada indivíduo.

“O Brasil é um país diverso e riquíssimo culturalmente. Seja na arquitetura, nas artes, no modo de falar, no modo de criar, fazer e viver, há contribuição dos vários povos aqui estabelecidos. Ou seja, um país mestiço. A miscigenação ou mestiçagem consiste na mistura de raças, de povos e diferentes etnias. Assim, multirraciais ou multiétnicas são as pessoas que não são descendentes de uma única origem. Essas pessoas possuem características de cada uma das raças as quais descendem. Um exemplo pode ser alguém com ancestralidade europeia e africana, ou com ancestralidade europeia e indígena.” Destaca Tiago Nagô.
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em sua declaração universal sobre diversidade cultural destaca no artigo 4º que: “A defesa da diversidade cultural é um imperativo ético, inseparável do respeito pela dignidade da pessoa humana. Implica o compromisso de respeitar os direitos humanos e as liberdades fundamentais, em particular os direitos das pessoas que pertencem a minorias e os dos povos autóctones (nativos ou indígenas). Ninguém pode invocar a diversidade cultural para violar os direitos humanos garantidos pelo direito internacional, nem para limitar seu alcance”

“Quando eu nasci, eu já nasci em um terreiro de candomblé. E lá nós éramos preparados para conviver com pessoas, pessoas de todos os tipos. E tinha uma pessoa especial que era muito comum em nossa casa: era o negro. E esse negro também tinha uma outra qualificação: ele era religioso de matriz africana. Ele tinha ainda uma outra qualificação: Ele era pobre. Além disso ele era homossexual. Ele, esse homem, tinha tudo para sofrer preconceito reunido em uma única pessoa.” Relembra Dacimar Cristiano Santos, Policial Militar, Bacharel em Direito, Professor de História e filho da casa Ilê Axé Onì Dankô, fundada em 1917, que entendeu, pelo exemplo, a importância de ter os direitos respeitados e respeitar o outro e, hoje, policial e professor de história, sabe a importância de tudo que viu e viveu para a formação cultural do Brasil. “Cresci aprendendo a respeitar as diferenças e entendendo a importância da influência de todos os povos na nossa cultura e história, principalmente a importância dos negros e indígenas”.

Assim como o negro africano, os povos originários são fundamentais na formação da cultura brasileira. Grande parte da população indígena vive na área chamada Amazônia Legal, que abrange os estados do Amazonas, Acre, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Mato Grosso e a parte Oeste do Maranhão.
“Um dos parâmetros principais para entender a contribuição do índigena é: os povos indígenas, os povos originários, são a base, o pilar do que nós temos hoje como nação chamada Brasil. O primeiro meio econômic, utilizado no Brasil, na época da invasão colonial, é o método Tupinambá. É referência, a economia se movimentou a partir disso. Os invasores de Portugal, principalmente em Coimbra, reconhecem o Brasil a partir das famílias presentes nessa terra. A população indígena é que garante, ela que chancela a existência da Terra Brasilis. Não existe maior contribuição cultural do que esse reconhecimento como nação”, explica Anápuáka Muniz Tupinambá, fundador da primeira rádio indígena do país.
Viver e constituir sua cultura em áreas mais afastadas pode representar uma maneira de preservar os seus conceitos, valores, costumes e crenças, convergindo para uma qualidade de vida estabelecida dentro da sua singularidade cultural. Com a globalização e o progresso tecnológico, ouve-se muito sobre unificação global cultural. Ou seja, as fronteiras que definem a cultura dos países e os distinguem podem estar em risco, considerando o intenso contato entre os povos estrangeiros a partir da tecnologia de comunicação e informação, as TICs (Tecnologias da Informação e da Comunicação).
“A gente tem que entender que existe uma população indígena de mais de 1,5 milhões de indígenas no país, espalhados em todo o Brasil. Esse hábito de estar distante é um processo cultural de estar em territórios aonde estão suas origens, as suas terras originárias. Isso representa, sim, um ato de se preservar”, destaca Anápuáka.
Falar em diversidade cultural vai além de constatar o convívio conjunto de culturas diferentes em um mesmo local. Ao falarmos de diversidade cultural, falamos também de respeito à diversidade e à pluralidade. Uma sociedade precisa do respeito ao diferente para funcionar. O Àwúre, iniciativa do Ministério Público do Trabalho(MPT), da Organização Internacional do Trabalho(OIT) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), segue na luta por um mundo que respeite todo tipo de diversidade, inclusive a cultural.