“O projeto contratou costureiras para confeccionar máscaras para distribuição e conscientização do momento grave a qual todos nós estávamos enfrentando. Desde o início da pandemia foram confeccionadas mais de 21 mil máscaras, também distribuímos 530 cestas para os quilombos, juntamente com o UNICEF, e mais 300 cestas no município de Maragogipe, junto às famílias que estavam em vulnerabilidade.” Assim a presidente da Associação Edson dos santos, Jorgina Conceição, descreve algumas das ações do Àwúre no município baiano de Maragogipe.
“O projeto Àwúre tem ajudado não só às famílias, como também aos jovens, oferecendo cursos para o mercado de trabalho e palestras sobre os direitos da sociedade. Nesse ano de 2021, ainda estamos construindo a sala de capacitação para os cursos de agro, onde podemos oferecer a melhoria do manejo dos produtores rurais do nosso município, também estamos na fase da construção do galinheiro, pocilga e aprisco. Tudo isso para a sustentabilidade da comunidade. O projeto Àwúre veio para somar no município de Maragogipe”. Completa Jorgina.

O Àwúre, uma iniciativa do Ministério Público do Trabalho (MPT), da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), é um projeto que está presente em 6 estados brasileiros (BA, RO, AC, PA, TO e AP) atendendo mais de 60 mil pessoas, entre indígenas, negros, quilombolas, ribeirinhos, moradores de comunidades periféricas e praticantes das religiões de matriz africana.
Em Maragogipe, município que fica no Recôncavo Baiano, no ponto de encontro do rio Paraguaçu com o rio Guaí, a cerca de 130 km de Salvador, o Àwúre chegou no início de 2020, tendo como parceiro implementador a Associação Edson do Santos e como parceiros técnicos o Instituto Aliança e a Plan International Brasil.
Como outras cidades da região, Maragogipe traz uma forte tradição religiosa católica e também do candomblé. E foi no Terreiro Ilê Alabaxé de São Miguel Arcanjo, onde fica a Associação Edson dos Santos, que o Àwúre Maragogipe foi instalado. O projeto pretendia inicialmente atender 2.500 pessoas, entre moradores do terreiro, quilombolas, marisqueiras e trabalhadores (as) na manufatura de carne de fumeiro e suas famílias, mas já no cadastramento se chegou a um contingente superior a 3.000 pessoas beneficiadas diretamente, mas indiretamente este número ultrapassou dezenas de milhares de pessoas.
Entre as ações do projeto, foram previstos: mapeamento dos produtores da região, incluindo grupos quilombolas; criação de um espaço para que produtores rurais e comunidades quilombolas comercializem seus produtos alimentares e tenham espaço para coleta, beneficiamento, armazenamento e distribuição adequados; produção, no local, de plantas e ervas agroecológicas para comercialização in natura e manufatura e auxílio na produção local de aves, caprinos, ovinos e suínos.
Considerando que o local abriga a maior variedade de plantas medicinais do país, uma das formas de aumentar a renda é a proposta de fazer uma mandala de ervas, nomear e vendê-las para a comunidade, além de manufaturar para a venda. O Àwúre Maragogipe busca a sustentabilidade socioambiental e econômica, já que a ideia é que as comunidades aumentem sua rentabilidade e dessa forma garantam sua sustentabilidade socioeconômica. A ideia é conhecer a potencialidade de cada lugar, entender seus problemas e construir ações voltadas para a mudança de pensamento e da realidade das comunidades atendidas.

Alexandre Santana Lima, 22 anos, integrante do projeto, fala como foi a chegada do Àwúre à região. “O projeto Àwúre chegou aqui na cidade de Maragogipe num momento de dificuldade em meio a pandemia, trazendo um pouco de esperança para um momento difícil que estávamos iniciando. De uma hora para outra, todos passaram a fazer o uso obrigatório de máscaras, não só na cidade como no país e no mundo, e os cuidados com a higiene pessoal foram redobrados. O projeto me deu oportunidade de trabalhar como recenseador, ali eu pude ver de perto a carência que aquele momento estava causando nas famílias, nos principais bairros periféricos de uma cidade pobre. Com o passar do tempo, consegui me destacar na minha atividade, e o projeto, me deu a oportunidade de sair do meu trabalho de camelô da feira livre da cidade, que no momento estava parada devido a pandemia, e foi dessa forma que pude começar a ingressar numa nova área e comecei a trabalhar como assistente administrativo na Associação Edson dos Santos que é executora do projeto Àwúre na cidade de Maragogipe. Hoje mais de um ano depois, continuo fazendo parte desse projeto na minha função, contribuindo para o desenvolvimento e a capacitação de produtores rurais e marisqueiros da cidade e de todas as atividades que o projeto desenvolve aqui na cidade”.
A atuação multissetorial do Àwúre no município e a participação das comunidades tradicionais na implementação do projeto são duas estratégias centrais para que possam ser alcançadas mudanças culturais, de comportamento social e de combate a ações discriminatórias, possibilitando a promoção dos direitos de negros, indígenas, quilombolas, ribeirinhos, seguidores de religiões tradicionais e ancestrais, além de imigrantes que vivem nessa região.

O Àwúre Maragogipe chegou para ajudar a mudar a vida de pessoas como Tamires Santana, 21 anos, moradora do quilombo do Dendê (BA). Foi graças ao Àwúre que hoje ela estuda o que gosta. “O projeto Àwúre me ajudou muito, primeiro porque fui contratada para ser recenseadora na minha comunidade e depois tivemos as salas de conversas, onde eu aprendi muito sobre diversos assuntos. Através dessa iniciativa, participei do curso de preparação para o vestibular, hoje estou cursando o primeiro semestre de pedagogia na faculdade, e agradeço muito a todos do Àwúre, pois foi graças o projeto que despertou em mim a vontade continuar a estudar e perceber que existem outras perspectivas de vida. Gratidão ao projeto por todos os ensinamentos adquiridos até aqui!”




