“Esse não é o primeiro caso que acontece no Estado do Mato Grosso do Sul, mais um que luta pelo seu território e acaba morto”. Esse era o sentimento dos que caminhavam juntos na 1ª comitiva externa em defesa da justiça para Alex Lopes Kaiowá. A comitiva foi formada pelo povo Guarani Kaiowá em protesto contra a morte de Alex. De acordo com informações, o jovem de 18 anos foi até uma região próxima a Reserva Indígena de Taquaperi, em Coronel Sapucaia (MS) tomar banho e coletar lenha. Sua esposa e cunhado ouviram tiros próximos à região. O tempo passou e Alex não retornou. Seu corpo foi encontrado em uma estrada já em território Paraguaio, com marcas compatíveis com arma de fogo. Após a execução, a Grande Assembleia Guarani Kaiowá (Aty Guasu) publicou uma carta lamentando o episódio e o constante uso da violência contra o povo Guarani Kaiowá.

“O corpo sem vida deste jovem, como de nossa anciã e Nhandecy Xurite Lopes é somente a parte que toma dimensão publica de um massacre estrutural, intencional e permanente que segue velado. Nosso povo, por forca da nossa espiritualidade ou apenas por esperança busca encontrar, para acalmar o espirito de todos que tombaram, uma senhora chamada justiça. Por mais que busquemos ela, incessantemente por décadas, infelizmente, ainda não a encontramos, nem sequer a conhecemos”, relata um trecho da carta da Aty Guasu.
Coronel Sapucaia se destaca pelo histórico de violência contra lideranças do povo Guarani Kaiowá. De acordo com informações do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), no curto prazo de dois anos foram ceifadas vidas de importantes lideranças do Tekoha Kurusu Amba: Xurite Lopes, Ortiz Lopes e Oswaldo Lopes.
Acuados, mas resilientes, o povo Guarani Kaiowa espera que o assassinato não caia no esquecimento e que seja investigado pelas autoridades federais. O medo de uma resolução desastrosa se dá pela não confiança do povo Kaiowa nas forças de segurança do estado.

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) divulgou dados apontando 35 homicídios em conflitos no campo em 2021, contra 20 em 2020, o que corresponde a uma alta de 75%. O Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH) oficiou o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), a Polícia Federal e a 6ª Câmara do Ministério Público Federal para que “federalizem o caso, investiguem e punam responsáveis”, destaca a nota divulgada pela instituição. Foram mais de 40 ataques no Mato Grosso do Sul desde 2015, além dos vários processos que envolvem assassinatos de lideranças e indígenas Kaiowá.
A Polícia Federal abriu uma investigação sobre o caso e disse, em nota, que irá apurar se a morte do jovem indígena tem relação com disputa de terra. “Para confirmar se a morte do indígena tem relação com disputa territoriais locas ou que atinja a comunidade indígena como um todo, já que, nesse caso, seria de competência da Justiça Federal processar e julgar”, diz a nota.
A tese do Marco Temporal tem sido um agravante na relação entre ruralistas e indígenas, consequentemente a violência se torna o recurso mais utilizado na disputa de terras. Povos indígenas temem perder o “direito originário”, o que ameaça etnias que poderão ser expulsas da região que ocupam, além da suspenção de mais de 300 processos de demarcação de terras indígenas.
O Àwúre, iniciativa do Ministério Público do Trabalho (MPT), da Organização Internacional do Trabalho(OIT) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), segue na luta por menos violência e mais respeito aos Povos Originários.