Vinício Carrilho Martinez – cientista social
O objetivo desse texto é a elaboração, reflexão, reconstrução de uma educação para a descompressão. Tendo-se em conta as classes e os grupos subalternos, oprimidos, destroçados em sua dignidade.
São os sujeitos dessa história, os grupos subalternos, violentados em dignidade, direitos, espaços vitais, significativos na vida social são inumeráveis, aos que se juntam os famintos por significados, os famélicos, empobrecidos de todo gênero, os analfabetos totais, os analfabetos funcionais, os analfabetos políticos, as pessoas traficadas. Mas, também estão aí os pescadores, os negros e as negras pobres, os indígenas desalojados, arruinados em cultura, os pardos sem identificação socioeconômica, mamelucos, cafuzos e quilombolas, os brancos mais pobres e enfraquecidos pelo capital de ruína moral, desvalidos e desalentados, os marisqueiros, coletores, bordadeiras, lavadeiras, moradores de cortiços, em palafitas, moradores em situação de rua, sem teto, sem-terra, sem emprego, subempregados em trabalho doméstico, ambulantes, pedintes, catadores da sobrevivência em lixões, pintores da miséria humana escritores do crepúsculo que não virá, artistas mambembes de bico em bico, desenhistas da dor, cordelistas do sofrimento, cantores da desilusão social, retratistas da vida que nunca foi, recicladores não-organizados, os desejosos de uma esmola no dia, as cidadãs e os cidadãos sem bens, despossuídos de esperanças, os favelados, marginalizados, objetificados como lumpem, os degradados, esfarrapados, aprisionados pelo crime famélico e pelo altamente seletivo, punitivo (dos pobres), Estado Penal. Nossos sujeitos e agentes da construção social devem ser vistos entre todas as crianças que passam fome, todos os jovens sem escola, sem emprego, todas as mulheres violentadas em direitos, sem liberdade ou garantias.
Com essa realidade disruptiva, opressiva, repressiva e regressiva, sempre vale a pena retomar a lição clássica de Maquiavel – inclusive para desmontar a lógica do “dividir para conquistar” (as microfísicas do poder de Caio Júlio César) – em que a luta pela sobrevivência, afirmação, é sempre um campo para a auto-organização. E que a fortú, a Cornucópia da roda da fortuna, acompanhe os “homens de virtù” – que não sórdidos por natureza, uma vez que possuem inúmeras virtudes. Sendo assim, “Que a virtude derrote a fúria, e que essa luta se espraie bem depressa” – n’O Príncipe.