Cerca de 20 milhões de brasileiras e brasileiros (10% da população) se identificam como pessoas LGBTQIAP+, de acordo com a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT). Para a comunidade LGGBTQIAP+, 61% dos LGBTs no Brasil escondem sua orientação sexual no ambiente de trabalho por medo de rejeição e 49% deste público prefere não falar abertamente sobre o assunto na empresa onde trabalha.

Sandra Lia Simon, subprocuradora-geral do Trabalho e Vice-coordenadora do Eixo Transversal Gênero, Identidade de Gênero e Orientação Sexual nos Povos Originários e Comunidades Tradicionais, chama a atenção para a importância de mudança na sociedade brasileira na forma de ver essa população. “O Brasil é um país extremamente conservador. No que diz respeito às pessoas que não se enquadram no padrão heteronormativo, cisgênero e binário. Nós presenciamos em todas as relações, que toda pessoa que não se adéqua nesse padrão tido como o corrente, sofre discriminação. Então é muito importante que nós discutamos o fato de que as pessoas podem sim assumir a sua identidade de gênero, as suas peculiaridades, as suas características, os seus sentimentos e que isso não sirva de discriminação para que elas se relacionem, para que elas obtenham trabalho, para que elas transitem em todos os setores da sociedade.” Sandra Lia Simon diz ainda que é preciso sempre trazer o assunto para discussão. “ É muito importante que sempre possamos falar, discutir e mostrar que a pessoa tem todo o direito de se identificar como ela sente que deve ser identificada. É importante que não só o Ministério Público, mas que todos os segmentos da sociedade tragam essa discussão para todos os âmbitos para que se consiga compreender que as pessoas têm o direito de se identificar como elas se entendem”,
Já não dá mais para enxergar o mundo como um lugar binário. Todos nós somos diversos, todos temos em si uma diferença. Isso dentro de um mundo geral, não apenas no mundo LGBTQIAP+, e essa diversidade precisa ser respeitada. A partir do momento que o ser humano entende isso, é possível se relacionar de um jeito mais respeitoso com a pessoa que é diferente de você, diferente, no caso, apenas por que a pessoa tem uma orientação sexual diferente da sua.
É sempre necessário refletir sobre o que a sociedade ainda precisa fazer para tornar as relações entre as pessoas mais igualitárias. E foi em busca do respeito que o dia 17 de maio foi declarado o Dia Internacional de Combate à Homofobia, vivenciado como uma data simbólica em que as pessoas de todo o mundo se mobilizam para falar de preconceito e discriminação sobre a perspectiva da equidade, da diversidade e da tolerância.

Atualmente desempregada e buscando meios de ganhar uma renda em atividades autônomas para conseguir pagar o aluguel e manter as despesas, Evelin Marine que é uma mulher trans fala da sua dificuldade no mercado de trabalho.
“Buscar emprego em grandes e pequenas empresas é complicado, pois o primeiro fato é que os empregadores já me julgam por ser trans, mas esquecem de que também sou um ser humano em busca de uma oportunidade para conseguir o sonhado emprego, para assim realizar meus sonhos. Mesmo eu tendo uma boa comunicação, me expressando bem, sendo pontual e me dedicando naquilo que me proponho a fazer.” Conta Evelin, que faz questão de detalhar como há resistência ainda na aceitação: “nas seleções sempre usam o fato de como os ‘clientes são difíceis e talvez não entendam’, mas isso não existe apenas para nós trans, mas também para o negro, nordestino e pobre. Sempre vão existir pessoas com pensamentos diferente. Mesmo eu tendo experiência, sempre vão olhar primeiro para o fato de ser trans, o que é um erro. Eu posso ser tão boa quanto uma mulher cis.” A esperança, mesmo assim é mantida por Evelin. “Independentemente dessa dificuldade na busca de emprego eu sempre sou positiva nas buscas, tenho a orientação da minha mãe por ela ter fé, e isso foi passado da minha avó, sempre colocar Deus em primeiro lugar em tudo, por isso acredito que, por mais que a luta esteja difícil, sempre há uma esperança”.

Biomédico, Lucas Cassimiro atualmente trabalha em uma clínica e nunca teve problemas com seus pacientes por conta da sua sexualidade, mas na busca por novas oportunidades, ele diz ter encontrado dificuldades.
“É bem difícil uma clinica de estética contratar homens, e sendo negro e gay existe um pouco do preconceito em algumas entrevistas. Enquanto homem negro e gay, para eu conseguir um emprego em uma clinica maior ou em um centro de estética grande, eu tive dificuldade até de chegar à entrevista. Já não tinha muito retorno, pois eu mandava o currículo e exigiam foto, perfil do instagram e assim já não retornavam mais”.
Diferente de Evelin e Lucas, Jefferson Gustavo, homem homossexual cis, trabalha na área da Educação, mas não passou por nenhuma dificuldade por conta da sua orientação, mas caso ocorresse, “a melhor forma seria ser o inverso”.

“Até hoje eu não tive nenhum tipo de discriminação, e acredito que se passasse por isso, a melhor forma seria ser o inverso da pessoa que me discriminaria. Agir com educação, gentileza, calma e cuidado. Mostrando para aquela pessoa que ela criou rótulos na cabeça dela e ela define pessoas a partir disso, e que nada na vida é assim, todos somos seres humanos, possuímos defeitos e qualidades e que nada disso é justificado por orientação ou gênero.
O Àwúre, iniciativa do Ministério Público do Trabalho (MPT)/ CONAETE/ GT “Povos Originários e Comunidades Tradicionais”, da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), ressalta que seja qual for sua orientação sexual ou identidade de gênero, o respeito sempre prevalecerá. Realizamos um trabalho permanente de valorização das pessoas, para que todos tenham seus direitos garantidos, em contribuição a uma sociedade mais justa, informada e acolhedora.