Um dos produtos mais consumidos no mundo está aqui no país. O Brasil é o maior produtor, exportador e segundo maior mercado consumidor de café. Possui uma cafeicultura plural e diversificada, com muitos aromas e sabores originados em lavouras das espécies arábicas e canéfora (conilon e robusta), cultivadas de norte a sul do país.
A cafeicultura em Rondônia é plural e inclusiva. Mulheres, jovens e indígenas são parte fundamental e movimentam as lavouras. Além disso, pensando na sobrevivência com o mínimo de qualidade de vida, a Terra indígena Sete de Setembro (Rondônia), área habitada pelo povo Suruí Paiter continua na luta pela produtividade sustentável, com a cadeia do café, castanha, banana, artesanatos e revitalizando a produção de outros alimentos da cultura tradicional paiter, como amendoim, milho, cará, mandioca e etc.
Toda essa produção fez com que grandes empresas quisessem investir no trabalho já desenvolvido pelos povos indígenas, a exemplo do projeto 3 Corações Tribos que une três grandes riquezas do nosso país: a cultura indígena, o café e a floresta amazônica. O projeto tem como objetivo valorizar a cultura do Brasil, dar protagonismo aos indígenas cafeicultores e fomentar uma produção sustentável na maior floresta tropical do mundo.
A empresa de café desde 2014 se tornou signatária do Pacto Global – Rede Brasil, desenvolvendo e apoiando ações que contribuam para o enfrentamento dos desafios da sociedade, adotando os valores fundamentais e internacionalmente aceitos, através de 10 Princípios derivados de Direitos Humanos da Declaração da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre princípios e direitos fundamentais no trabalho.
Em 2018, o Grupo 3 corações conheceu de perto o trabalho dos indígenas cafeicultores, foi daí que começou uma parceria em prol da valorização do trabalho dos indígenas, até mesmo fazendo um concurso com direito a premiação. O concurso Tribos ocorre anualmente e recebe cerca de 100 amostras de microlotes de cafés, onde é feito todo o reconhecimento dos dez melhores lotes. Essa iniciativa valoriza e promove a descoberta do máximo potencial de qualidade das lavouras indígenas.
Coordenador da Associação Gap Ey, o indígena Robson Suruí foi um dos ganhadores do concurso Tribos de 2021, ficando em 9º lugar, pela produção de café orgânico de qualidade. Em entrevista ao Àwúre, ele conta como foi ter esse reconhecimento.
“Foi emocionante e apesar de todo esforço e trabalho nas roças de café não esperava essa premiação, afinal são mais de 800 cooperados só na COOPAITER- Cooperativa Paiter na Terra Indígena Sete de Setembro/RO e mais os cafeicultores do restante do estado de Rondônia. Estar entre os 10 primeiros colocados é muito gratificante. Apesar de ser uma premiação individual, me senti representando nossa família e a Associação Gap Ey que através de projetos buscamos a sociobiodiversidade através de atividades sustentáveis, um desses projetos é a Ampliação da Soberania Alimentar na Terra Indígena Sete de Setembro com o financiamento do Àwúre, que nos proporciona insumos e equipamentos para nossas atividades produtivas, incluindo o cultivo do café”.

Antes do contato oficial, os colonos já cultivavam o café, quando os indígenas foram aldeados no fim da década de 60, os colonos saíram e deixaram o cafezal, isso fez com que os indígenas fossem aprendendo a cultivar em pequena escala, e com o passar dos anos, o trabalho foi se inserindo às novas tecnologias, deste modo aprimorando a produção, mas mesmo assim ainda era utilizado o veneno para combater as pragas, prática que agora deixou de ser utilizada.
“Agora, no contexto de mudança climática e da saúde, deixamos de usar agrotóxicos e estamos numa produção 100% orgânica, o que melhora não somente a qualidade do café, mas consequentemente a saúde de todos que o consomem”, conta Robson.
Além do reconhecimento, Robson acredita que a premiação trouxe confiança no trabalho desenvolvido na comunidade.
“A premiação trouxe a segurança de que estamos no caminho correto, apesar do trabalho árduo sabemos que é possível produzir um café de qualidade sem uso de agrotóxicos e que entregamos o melhor grão que as pessoas vão consumir”.
O coordenador também comenta do uso da tecnologia na produção dos cafés e na preservação da floresta, sendo que ambos estão juntos, tendo em vista a preocupação com o meio ambiente.
“O que mais nos preocupa hoje é a questão do meio ambiente, nosso território sofre muito com o garimpo e a exploração ilegal de madeira. Nós povo Paiter, buscamos preservar o que sobrou pensando nas gerações futuras. Hoje, mesmo já sentimos os efeitos dessa devastação, o tempo de plantio e colheita não é mais o mesmo, nosso calendário sazonal está bagunçado por causa dos efeitos climáticos”.
Robson agradece e ressalta a importância do apoio que a comunidade tem recebido para o desenvolvimento dos trabalhos.
“Quero destacar o apoio da Organização Internacional do Trabalho – OIT que chegou com a pandemia através da mediação da Forest Trends, que nos ajudou a sair da crise nos apoiando na revitalização das nossas atividades produtivas através do projeto de Soberania Alimentar, ao longo de 9 meses. Depois continuou com o Projeto de Fortalecimento da Cultura Paiter, com foco nas mulheres da comunidade e produção de artesanato para geração de renda. Agora estamos trabalhando no Projeto de Ampliação da Soberania Alimentar, onde estamos contemplando mais três aldeias da Terra Indígena Sete de Setembro/RO com equipamentos, insumos, oficinas de solo e apicultura que irão nos ajudar a ampliar a produção, ou seja, além de nos fortalecer como Instituição estamos replicando o projeto de soberania alimentar em outras comunidades do nosso território. Somos muito gratos pela atenção e sensibilidade que nos foi proporcionada. Nesta etapa do novo projeto iremos receber recursos para a compra de um carro usado com carroceria, o que irá dinamizar o escoamento da produção e aumentar a renda das famílias paiter, uma vez que grande parte do lucro ficava nas mãos de atravessadores e frentistas”.
O projeto Soberania Alimentar integra o Àwúre , uma iniciativa da Organização Internacional do Trabalho (OIT), do Ministério Público do Trabalho (MPT) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), e é financiado com recursos do MPT decorrentes de multa ou indenizações referentes à recomposição dos bens trabalhistas lesados. Foi implementado na aldeia em parceria com a Associação GAP EY, beneficiando 70 indígenas de 15 famílias.
Com a comercialização dos produtos que foram coletados em 2021, o projeto proporcionou um grande aumento na renda média anual das famílias, que anteriormente era de R$ 1.800,00. A renda anual dos indígenas passou a ser R$ 3.856,00. Aumento de R$ 2.056,00 (114.22%).
Os principais resultados que se destaca com o projeto Soberania Alimentar Àwúre:
Aquisição de equipamentos: sacaria e material para produção de estufa e seladora para a secagem e comercialização da castanha, o que valorizou esse produto que antes era vendido por R$2,50 (kg) e agora passou a ser comercializado a R$6,50 (kg); ferramentas para trabalhar nas roças como facões, lima chata, enxada. Também foram comprados equipamentos de proteção individual (EPI ‘s) para atividades de apicultura, insumos para manutenção do galinheiro comunitário e uma carroceria de moto para transportar os produtos das roças. O Àwúre, através de projetos sustentáveis que levam desenvolvimento, segurança e soberania alimentar, busca qualidade de vida para comunidades tradicionais e povos originários, respeitando as tradições e cultura desses povos.