Teve início nesta terça-feira (13/12) na sede da Procuradoria Geral do Trabalho, em Brasília, o “III Simpósio Nacional e II Internacional “ Indígenas, Negros/as, Quilombolas e Religiosos/as de Matriz Africana: Decolonialidade e Dívidas Históricas do Estado Brasileiro nos 200 anos da Independência”, evento presencial realizado pelo Àwúre, iniciativa do Ministério Público do Trabalho (MPT), da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).
Participam do evento professores, procuradores, escritores, líderes de comunidades e povos tradicionais/ originários e também apresentações e exposições artísticas. O Simpósio reunirá mais de cem autoridades que juntos estão tendo a oportunidade de pensar e construir propostas de ação.
A abertura do evento foi realizada com o Toré dos Povos Originários. Toré é um ritual ancestral, praticado por várias etnias indígenas do Nordeste brasileiro, tais como os Pankararus, Kariri-xocós, Pankararàs, tupinambás, Xukuru-kariris, Potiguaras, Atikuns Pataxòs, Truká Tupã e outras. Trata-se de uma manifestação espiritual de importância fundamental para a existência desses povos envolvendo tradição, invocação aos antepassados, música, religiosidade e celebração da vida. Logo após a apresentação, foi exibido em vídeo o hino nacional brasileiro interpretado por Djuena Tikuna e Tainara Kambeba, na língua Kambeba, e cantado em português pela Procuradora do Trabalho Silvana Silva.
A Subprocuradora-geral do Trabalho Edelamare Melo ressaltou a importância da realização do evento logo após a pandemia e também chamou a atenção do silenciamento da imprensa referente às violações dos direitos humanos.

“Esse é o momento do simpósio da diversidade, do respeito, da resistência e da resiliência. Todos nós sabemos o nível da violação de direitos humanos e fundamentais que os povos originários e comunidades tradicionais sofrem no Brasil. A imprensa não noticia as mortes e violências que acontecem diariamente, as destruições dos terreiros de candomblé, locais sendo incendiados, inclusive, com pessoas dentro. A imprensa não notícia a destruição das casas de rezas dos meus parentes, a agressão do garimpo legal nas terras indígenas com o estupro de jovens, o grande número de jovens que estão cometendo suicídio por não ver um horizonte nessas áreas. Então, esse é um simpósio que dá realmente espaço de fala para meu povo. Esse simpósio é para os povos originários e comunidades tradicionais e, nele, eles têm realmente o espaço de fala, e que não é o espaço de fala que está na literatura, e que Djamila Ribeiro coloca. O espaço de fala deles ocorre desde que eles existem no território brasileiro. Isso é uma apropriação daquilo que eles sempre reivindicaram e ocuparam. O Ministério Público do Trabalho dentro da sua institucionalidade é um modo que está absolutamente aberto aos povos originários e comunidades tradicionais”.
O indígena Joatão Suruí, membro da Associação Gap Ey, do Museu Payter, em Rondônia, fala do fortalecimento do evento para seu trabalho desenvolvido na comunidade indígena.

“O evento é importante para o fortalecimento do nosso trabalho, pois é uma divulgação e, ao mesmo tempo, o reconhecimento daquilo que nós fazemos de alternativa econômica e sustentável na nossa aldeia. Fico feliz em trazer um pouco do meu trabalho, daquilo que minha comunidade realiza e agradecemos o convite maravilhoso e que no próximo simpósio sejamos convidados novamente”.
Natalina Augusto do Quilombo Abolição, localizado na Serra de São Vicente, no estado de Mato Grosso, comenta como está sendo participar do primeiro dia do simpósio.”
“Participar deste evento é um momento único, essa é minha primeira vez no simpósio. A minha comunidade ainda não está no território, pois ele foi invadido por fazendeiros. O que eu vim fazer aqui foi buscar experiência e também uma forma de conseguir levar minha comunidade de volta para nossa terra. Sei que aqui podemos conseguir forças e contatos que podem nos ajudar”.
Erlins da Silva Pereira que também faz parte do quilombo Abolição está pela primeira vez na Capital Federal e está aproveitando ao máximo o evento.

“Essa é minha primeira vez em Brasília e também no simpósio. O evento abre portas e oportunidades. Nós que somos quilombolas temos que participar de eventos como esse para unirmos forças para lutarmos juntos. Quando recebi o convite eu fiquei muito emocionada, nunca tinha participado de um evento tão grandioso como esse, fiquei muito emocionada”.
O sociólogo guineense e também palestrante no simpósio, Miguel de Barros comenta sobre o processo cultural que tem nele um racismo estrutural.
“Há algo de errado quando o próprio processo educativo é um que nos leva a ignorância do processo que formou a nossa estrutura cultural, a dinâmica educativa acaba por impor também o modelo político que é baseado sobre todas a injustiças. O Brasil desenvolveu educativamente, economicamente, uma economia de exploração, uma economia de escravidão. Há uma negação das línguas étnicas, uma imposição de uma língua que não faz parte do sistema cultural dos povos, é negação da capacidade da produção artística e artesanal de um povo ou de vários povos, é negação também de várias formas de organização de uma sociedade e religiosidades, é negação de modelos econômicos. Isso hoje faz parte de uma pesada herança que tem que ser debatida e colada em espaço público”.
Além das atividades presenciais, também é possível participar do evento de forma online. Todas as pessoas que participarem de forma presencial ou online receberão certificado.
O simpósio vai até quinta-feira, dia 15 de dezembro, com transmissão online através do canal Àwúre no Youtube. As palestras começam nessa quarta, às 8h, e a primeira Mesa Redonda será “Povos de comunidades tradicionais. Marco conceitual e teórico-normativo nacional e internacional. Tipologias. Convenções 107 e 169 OIT. Decreto 6040/2007.” Esperamos vocês!!!!




