“O território é vida, nossos corpos formam o nosso território, que forma nossa identidade cultural”, as palavras de Matania Surui, moradora da Aldeia Sororó, também é da primeira e única mulher do seu povo a cursar um mestrado, realizado através do Programa de Pós-graduação em Educação Escolar Indígena (PPGEEI). Matania e outras mulheres participaram do Primeiro Encontro das Mulheres Indígenas do Povo Suruí -Aikewara, realizado na Aldeia Yetá da Terra Indígena Sororó, localizada no Sudeste paraense, entre os municípios de Marabá, São Geraldo do Araguaia, São Domingo do Araguaia e Brejo Grande do Araguaia.

Fruto do Protocolo de Consulta Prévia e Comunitária que acontece na Terra Indígena, o encontro pôde ouvir mulheres que, em sua grande maioria, ainda eram “invisíveis” ou não opinavam. “Foi muito importante para nós, kusso (mulher), pois precisamos de mais encontros desses para nos fortalecer enquanto comunidades, as mulheres Aikewara precisam expor suas opiniões sobre o nosso território que é algo muito importante para ser discutido em nossas reuniões”, ressalta Matania.
Com o apoio e incentivo do Cacique Abias Suruí, do professor da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), Bernardo Tomchinsky, e da ativista e defensora das causas indígenas Vanalda Gomes, no diálogo foi ressaltado a importância das mulheres indígenas serem ouvidas, opinarem e tomarem decisões em benefício de suas aldeias. Estavam presentes 25 mulheres entre crianças e adolescentes de 4 aldeias (Yetá, Akamassyron, Tukapehy e Aldeia Sororó).
“Para a comunidade foi um momento riquíssimo, onde cada participante pôde compartilhar suas experiências como mãe, educadora, merendeira, coordenadora da horta comunitária, estudante e mulher que ocupa a liderança, como a cacique Tehy da Aldeia Tukapehy. Nesse dia, para você ter uma ideia, foram os homens que ajudaram na alimentação, que cozinharam. Nesse encontro tínhamos uma diversidade de mulheres, cada uma com suas atividades, e tinham alguns homens que nos ajudaram na logística também.” Relata Vanalda, ativista e pesquisadora. Vanalda estuda e acompanha o crescimento territorial e populacional do Povo Suruí -Aikewara

“Estou aprendendo muito nessa reunião, nós, mulheres, temos que participar das reuniões, porque antes eram só os homen,s agora estamos aqui falando do nosso território, da nossa participação no protocolo de consulta.”, destaca Tehy, cacique da Aldeia Tukapehy.
Para Opireme Suruí, Anciã da Aldeia Yetá, o encontro contribuiu com a troca de experiências entre homens e mulheres e sobre seus afazeres. “É a primeira vez que eu participo de um encontro assim. Eu aprendi fazer as coisas com meu marido Tyramé. Ele me ensinou a medir castanha. Ele ia viajar e eu ficava na Aldeia. Então, eu aprendi muito e eu ensino meus filhos que a gente tem que aprender as coisas.”

Já Tipepew, da Aldeia Yetá, diz como o encontro é importante para as mulheres. “Sempre estou conversando com meus filhos. Meu sonho era fazer uma horta, quando a Irmã Zélia e a Vanalda chegaram e deram o incentivo, a irmã ajudou muito nós, ela faz falta, mas estamos continuando o trabalho da horta.”
A professora Mureatyng Suruí, da Aldeia Akamassyron, ressalta que o encontro é importante para a troca, divisão e união do conhecimento entre os povos e suas culturas, mas destaca o impacto da tecnologia nas relações culturais. “Pra mim é uma honra participar dessa reunião, não importa o que estamos dividindo, mas somos unidos. A tecnologia está fazendo o povo mais distante da nossa cultura. Nós temos que correr atrás dos nossos direitos. Sou professora de língua na minha aldeia e eu ensino para nossos alunos que temos que aprender nossa cultura. Kamará (o branco) eles querem é que nós deixemos de viver na nossa cultura.”

O encontro foi pensado juntamente com os caciques das 7 aldeias da TI Sororó e se espera que seja o primeiro de muitos.
Vanuza do Quilombo da Comunidade do Abacatal, no município de Ananindeua (PA), participou do evento para incentivar as mulheres Indígenas a participarem de momentos importantes, principalmente do protocolo de consulta prévia que está sendo realizado na região.
Vanuza foi uma das colaboradoras do evento.
“Hoje foi um marco histórico na vida dessas mulheres, eu fico muito feliz em participar desse momento da vida dessas mulheres eu espero de verdade ter plantado a sementinha da revolução na vida delas.
Gilmara Neves é Vice presidente do Conselho Estadual da Mulher, também foi uma das colaboradoras do evento e atua como vice conselheira estadual. “Gil”, como é conhecida na TI, enfatiza a participação das mulheres no protagonismo do processo de construção de igualdade. “Este momento é muito importante.
É um momento extraordinário onde aprendemos que o nosso passado é necessário para sermos melhores hoje, melhores como pessoa. Parabéns aos organizadores e a Aldeia Yetá por nós receber com carinho.
O encontro de mulheres foi importante para nós enquanto mulheres.“
O Àwúre, iniciativa do Ministério Público do Trabalho (MPT), da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), se divide em Àwúre Quilombola, Terreiros, Ribeirinhos, Terra Roxa, Periferia e Àwúre Indígena, este está presente em 5 estados brasileiros: Acre, Pará, Rondônia, Tocantins e Amapá, atendendo mais de cinco mil indígenas. Os estudos feitos englobam temas relacionados à saúde, educação, assistência, geração de trabalho emprego e renda, modos de produção e consumo, prevendo, ainda, realização de estudos para a compreensão da religiosidade, história, tradição e cultura ancestrais destes povos originários, para contribuir com o rompimento dos estigmas e preconceitos que os envolvem, além de capacitação em Direitos Humanos e qualificação e capacitação profissional, conforme demandas desses povos, respeitando sempre suas vontades, peculiaridades e especificidades locais e regionais. Uma das formas também de romper preconceitos e contribuir para o respeito das tradições e cultura dos povos originários é divulgar eventos e ações como o primeiro das mulheres indígenas da TI Sororó.