No mês de agosto há duas datas muito importante na luta lésbica no Brasil: 19/08 – Dia do Orgulho Lésbico e 29/08 – Dia Nacional da Visibilidade Lésbica. Marcos na história da crença de caminhos para uma sociedade mais justa e igualitária são feitos de luta, rebeldia e afeto! Histórias de rejeição das normas que limitam e controlam as múltiplas possibilidades de ser.

Para a indígena Bia Pankararu, 29 anos, casada com Viviane Matos, uma mulher negra, datas como essas ainda não são poucas diante das discriminações. “Um dia é pouco, dois dias são pouco, três dias são pouco, um mês é pouco. Sendo uma mulher indígena, não-hetero, do sertão do nordeste, mãe, onde cada nicho desse da minha vida que faz ser quem eu sou parece extraordinário, é um tom de ‘UAU, indígena-lésbica’, e isso eu vejo com outras pessoas igual a mim. São tantas coisas em uma pessoa só e a gente as celebra nessas datas, ocasiões e momentos. E chega ser cansativo, pois a gente sabe que é pouco. Quando a gente sabe que somos o país que mais mata pessoas trans, um dos países mais homofóbicos do mundo”.
Os dados do relatório produzido pelo Observatório de Mortes e Violências contra LGBTI+ chama atenção para o aumento considerável de casos de violência ou assassinato no ano passado dessa população na comparação com 2020, quando 237 mortes foram registradas. Em 2021, 316 pessoas LGBTQIA+ foram vítimas da LGBTfobia.
Além das mortes de pessoas LGBTQIAPN+, as mulheres que amam outras mulheres vivem outras problemáticas e continuam buscando espaços que lhe são de direito. Sabe o porquê da sigla GLS mudar para LGBT? A ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos) decidiu alterar a sigla para, além de incluir outros membros da mesma comunidade, alterar o L de lugar, para alertar sobre a falta de visibilidade que as lésbicas sofrem dentro e fora do movimento.
Mulheres lésbicas não possuem métodos de barragem de ISTs específicos para elas, mulheres lésbicas são consideradas virgens para grande maioria dos ginecologistas, sendo muitas vezes negado até mesmo os exames que deveriam ser de rotina. Mulheres lésbicas trans lidam com a transfobia, machismo e lesbofobia durante toda a sua vida. E é nesse mês que é necessário não só olhar para essas mulheres, mas sim pensar em políticas públicas que as acolham de verdade.
Ainda há muita desinformação para as mulheres lésbicas sobre seu próprio corpo, fruto do machismo e do patriarcado, que não reconhece essa mulher e a coloca em um limbo de sua existência.
Ser mulher indígena e lésbica é resistir triplamente a esse modelo colonial, racista e patriarcal. Onde as mulheres lésbicas precisam todos os dias resistir para existir dentro de um sistema misógino que viola e silencia mulheres e precisam também lutar contra a homofobia para permanecerem vivas.
Indígenas LGBTQIAPN+ existem e exigem respeito. E é urgente visibilizar a voz LGBTQIAPN+ no movimento indígena e a voz indígena no movimento LGBTQIAPN+.
Karla Marques da etnia Boe Bororo só quer apenas que LGBTs indígenas também sejam respeitados.

“A gente só quer respeito, algo tão complicado hoje em dia na sociedade, não só nas aldeias, mas no mundo todo. A gente sente aquele ar de preconceito vindo das pessoas. Pelo fato de ser indígena, as pessoas acham que isso não existe. Na minha aldeia isso é meio novo, pois existem gays, trans, porém uma mulher que gosta e namora outra mulher ainda é meio novo, as pessoas ainda estão digerindo isso, mas não com agressividade, sabe, eles têm a cabeça mais aberta, acredito eu. Vejo que eles entenderam que isso não é uma escolha, a pessoa já nasce assim”.
Já na comunidade onde vive Bia Pankararu sempre que tentam levar pautas da diversidade, criam-se boatos.
“Toda vez que a gente tenta organizar um encontro, um debate, uma ocasião de identidade de gênero, de diversidade sexual ou assuntos LGBTs, sempre sai um boato polemico que sempre nós iremos fazer uma parada gay, aonde vamos por trio elétrico e que vamos descaracterizar a tradição, que o homem vai poder fazer o que é a função da mulher no ritual e que a mulher vai poder fazer a função do homem no ritual, vira um pavor e um pandemônio entre algumas pessoas que são influentes no território e envolve os nomes dos LGBTs em boatos para retaliação, ou até mesmo descaso, onde sabemos que a justificativa é que se acontecer uma parada gay, desmoraliza o lugar, retira a moral”.
Àwúre é uma iniciativa conjunta do Ministério Público do Trabalho (MPT), da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), com o propósito de promover o respeito pela identidade, diversidade e pluralismo de comunidades tradicionais O Àwúre alerta, também, a importância de se olhar os recortes: é necessário dar visibilidade para a mulher lésbica preta, indígena, trans sim! Pois falar sobre diversidade dentro do movimento só tende a fortalecer o mesmo e aumentar o respeito e o direito de todas, todes e todos serem felizes.