O segundo dia do “III SIMPÓSIO NACIONAL e II INTERNACIONAL Povos Originários, Negros/as e Religiosos de Matriz Africana e Afro-indígena: Decolonialidade e dividas históricas do Estado Brasileiro no bicentenário da Independência” teve várias discussões importantes, em uma delas o procurador do Ministério Público Federal Jaime Mitropoulos coordenou o curso voltado para discutir e refletir sobre a religiosidade de Matriz africana.

“Minha função aqui é mostrar para as instituições que elas precisam se desconstruir para se construir novamente através de novos paradigmas e boas práticas. Boas práticas essas que façam com que nossos operadores de direito possam olhar para esses povos originários e comunidades tradicionais a partir das pluralidades religiosas e da diversidade cultural”, disse o procurador.
Em seguida quem falou foi Edson Kayapó, escritor premiado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), ativista no movimento indígena, ambientalista e doutor em Educação. Edson pertence à etnia Mebêngôkre e é nascido no coração da Floresta Amazônica, no Estado do Amapá.
Edson lembrou de Perô Magalhães Gandavo, que foi funcionário da coroa portuguesa que transitou no litoral do Brasil entre 1558 e 1572, para trabalhar na Fazenda do Governo da Bahia.

“Quando Perô esteve no Brasil, ele observou que os indígenas não falavam três letras F, L, R e acabou escrevendo um livro chamado de “Tratado da Terra do Brasil”, a primeira versão do século XVI (16), onde ele fala várias coisas, mas o que me parece que o auge do debate é dizer que os indígenas não falam F, L, R pois eles não têm Fé, nem Lei, nem Rei, são povos desordeiros, povos que não aceitam ordens de ninguém e que precisam ser controlados, onde esses controles se devem dar pelas guerras justas. Guerras justas que vem lá de Portugal, antes dos portugueses chegarem aqui no Brasil, só que Perô Magalhães Gandavo deu um impulsionamento para que a coroa portuguesa decretasse as Guerras Justas contra os indígenas, contra aqueles que não aceitam a fé cristã e as ordens da coroa portuguesa. E essas guerras justas provocaram o extermínio de muitos povos de muitas aldeias e aqueles que não eram exterminados, eram escravizados, então a escravidão indígena no Brasil esteve muito vinculada ao conceito das guerras justas”.
Já a Dra. Rosiane Rodrigues Almeida, que é de religião de matriz africana interpretou a canção de Cesár Pinheiro “Jogo de Dentro”, e salientou o significado da canção.

“Jogar jogo de dentro é exatamente aprender a falar língua de branco, porque é falando língua de branco que a gente vai disputar poder. Porque o medo do que a nação brasileira passou nos últimos anos, a gente passa há 500. Estar dentro da academia praticando um olhar diferenciado, principalmente a partir da ciências sociais fundadas nesse país para dominar, colonizar e controlar os corpos do negros e dos indígenas é jogar jogo de dentro.”
O simpósio acaba nesta quinta-feira (15) e o evento faz parte do projeto Àwúre, iniciativa do Ministério Público do Trabalho (MPT), da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) que com outros parceiros junta forças para ampliar o apoio da luta dos povos e comunidades tradicionais e o respeito a todas as culturas e religiões.