Cientista, negra e nordestina, a baiana Jaqueline Goes de Jesus coordenou a equipe responsável pelo sequenciamento genético do coronavírus (SARS-CoV-2) no Brasil, e trouxe contribuições significativas no combate à pandemia da COVID-19.
Nascida no ano de 1990 em Salvador (Bahia), filha de pai engenheiro civil e mãe auxiliar de enfermagem e pedagoga, Jaqueline aprendeu desde cedo a valorizar o conhecimento. Através dos livros, com muito estudo e dedicação, ela montou um currículo excepcional.
Graduada em biomedicina pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Mestre em Biotecnologia em Saúde e Medicina Investigativa (PgBSMI) pelo Instituto de Pesquisas Gonçalo Moniz- Fundação Oswaldo Cruz (IGM-FIOCRUZ), Doutora em Patologia Humana e Experimental pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), em ampla associação com o IGM-FIOCRUZ e é pós-doutoranda no Instituto de Medicina Tropical de São Paulo da Universidade de São Paulo (IMT/USP), Jaqueline vem fazendo a diferença na vida de muitas pessoas, e isso já não é de hoje.
A cientista já havia realizado o sequenciamento do Zika vírus durante o surto de 2015 e 2016, mas ela só ganhou realmente visibilidade nacional em março de 2020, quando liderou uma equipe responsável por sequenciar em tempo recorde, menos de 48 horas, o primeiro caso do coronavírus da América Latina.
Com avanço das pesquisas científicas no país através da sua contribuição, Jaqueline obteve muito reconhecimento e várias homenagens destacando-se a do Conselho Nacional de Saúde (CNS), que designou a entrega da comenda Zilda Arns de 2020 a ela, uma honraria concedida a quem contribue para a defesa dos Direitos Humanos à saúde e também no processo de desenvolvimento do Sistema Único de Saúde (SUS). Uma das homenagens que mais a emocionou foi a do cartunista Maurício de Souza, que a representou como a personagem Milena, da Turma da Mônica, no dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março de 2020.
A cientista também foi inspiração para a fabricante de brinquedos Mattel, que a escolheu para “virar” a Barbie. A biomédica foi presenteada com uma boneca única e feita à sua semelhança.
O mais recente reconhecimento foi sua entrada para a seleta lista das ’20 Mulheres de Sucesso do Brasil’ da Forbes, a revista de negócios mais conceituada do mundo. Além de tudo isso, Jaqueline concedeu diversas entrevistas e matérias a blogs, canais de Tv e portais como UOL, G1, Fantástico, Conversa com Bial, entre outros. Em entrevista a Tv Bahia (Globo), Jaqueline fez questão de lembrar a importância do reconhecimento. “É algo que eu não esperava que acontecesse agora, nesse ano de 2022. Já comecei o ano com essa notícia boa. É um grande reconhecimento para mim que sou mulher, negra, nordestina, despontando realmente como uma mulher de sucesso no Brasil. Eu acho que nos faz refletir sobre os padrões de sucesso que a gente tem hoje no mundo, e que bom que eles estão mudando”.
Apenas 3% das mulheres negras são doutoras e professoras de programas de pós-graduação no Brasil, com base no Censo do Ensino Superior de 2019, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
“Esse reconhecimento traz um pouco mais de representatividade, não só para o nosso estado, para a nossa região, mas para as meninas e mulheres que estão aí, em busca de igualdade dentro da nossa sociedade ”, disse ainda Jaqueline.
Atualmente, a biomédica é um símbolo de resistência e representatividade, sendo uma grande inspiração para jovens negros em geral, mas principalmente para as meninas que encontram nela, uma possibilidade de ascensão e reconhecimento.
O Àwúre, iniciativa do Ministério Público do Trabalho (MPT), Organização Internacional do Trabalho (OIT) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) ressalta que é por meio da educação que se transforma vidas. Lembra, que por trás dos padrões e do racismo estrutural, há, com certeza, milhares de Jaqueline´s.
Viva Jaqueline Goes! Viva as cientistas negras do Brasil!