Sou Pedro Lemos, jornalista do Àwúre. É dessa forma que me apresento para as pessoas! Sou um jovem de 26 anos, negro não-retinto, magro, estatura mediana, cabelo médio cacheado, formado em jornalismo.
Quando fui selecionado para fazer parte da equipe de comunicação do projeto Àwúre, mil coisas passaram pela minha cabeça em questão de minutos, aquele leve frio na barriga, e a insegurança de não estar à altura. Estar em um projeto que envolve grandes instituições e organizações era uma pressão, e eu já tinha o conhecimento da responsabilidade que estava vindo pela frente.
Meu primeiro contato com o Àwúre foi durante a pandemia e ocorreu através do Espaço Multiplicidade, na pessoa da Cristiane Pereira, diretora do Multiplicidade, que logo após me apresentou para quem desde o meu início edita os meus textos e realiza minha supervisão, a jornalista, Telma Verçosa. Telma, te agradeço por toda ajuda e carinho, é você quem dá um “tapa” revisando cada reportagem e legenda postadas nas diferentes mídias sociais. Você tem o dom de pôr tudo nos eixos! Essa é uma contribuição fundamental na minha formação. Modéstia à parte, me sinto um diamante que foi lapidado para estar alinhado com o projeto, e deu super certo!
De 2021 até o momento, a cada reportagem que concluí, fui recebendo o feedback da equipe e também das minhas fontes. Cada mensagem de texto e áudio só ressalta ainda mais a importância do Àwúre na vida dos povos e comunidades atendidas em diferentes partes do Brasil.
O propósito do Àwúre é grande e lindo! Há uma equipe enorme por trás dessa iniciativa e todos com o mesmo objetivo, promover o respeito e a pluralidade existente na sociedade. Respeitando as diversas identidades, o pluralismo de comunidades tradicionais, incluindo povos indígenas, negros, quilombolas, ribeirinhos, moradores de comunidades periféricas e praticantes das religiões de matriz africana, para combater a discriminação, a intolerância, a violência e o racismo.
Em vários momentos me vejo refletindo, o quão grandioso é poder ecoar as vozes, daqueles que por muito tempo foram inviabilizados e que sempre estiveram aqui lutando diariamente, muitas dessas lutas pela sobrevivência em um mundo tão desigual e caótico. O Àwúre tem esse dom, de ser esse projeto coletivo, periférico, incentivador e potente.
E foi no Àwúre que aprendi a ser mais cauteloso com assuntos das ditas minorias, que, na verdade, são maioria, e sempre tenho o máximo do cuidado de saber quais caminhos meus textos estão seguindo, e como as pessoas podem interpretar. Sim, tem situações que preciso rever, repensar e me atualizar. Buscar mais conhecimento e até solicitar ajuda de profissionais mais gabaritados. Na verdade, se quero entregar um ótimo trabalho, esse deve ser meu compromisso diário. Rever, repensar, atualizar.
EXISTE MUITA VIDA, MUITA VIVÊNCIA, MUITA HISTÓRIA NAS REPORTAGENS.
No Àwúre eu aprendi a escutar, transcrever e traduzir a vida dos indígenas, dos adeptos às religiões de matrizes africanas, quilombolas, LGBTQIA+ e a escrever sobre diferentes assuntos e temáticas abordadas pelo projeto. E é exatamente isso, que tem me motivado a cada dia, repassar através dos meus textos, o que ocorre dentro das comunidades, o que essas pessoas têm a nos ensinar.
Realizando meu ofício pude encontrar pessoas que me incentivam, seja a cada reunião, a cada entrevista, pessoas que acreditam e se afinizam com o meu trabalho, o que reforça minha desafiante escolha de atuar no jornalismo. Sigo cada dia grato por colaborar com o projeto. E como disse a Subprocuradora-geral do Trabalho e coordenadora do Àwúre no MPT, Edelamare Melo, no Simpósio Àwúre 2022: “Ninguém sozinho faz nada, as lutas são coletivas”. E isso resume a grandiosidade que é esta ação, e o quão importante é um trabalho em equipe que diariamente tem me ensinado de diferentes formas, a ter um olhar mais cuidadoso com o próximo. É um aprendizado enriquecedor para minha carreira profissional e pessoal. Em 2023 seguiremos todes juntes!
E que saibamos exaltar sempre nosso povo, que vence a sabotagem e autossabotagem todos os dias. Longe do discurso irresponsável da meritocracia, reconhecendo nossos avanços em meio ao caos social, caos financeiro e caos emocional, essa é uma forma tremenda de autocuidado.
Somos incríveis. Salve pretos e pretas, indígenas, quilombolas, LGBTs, adeptos às religiões de matriz africana que sofrem tanto com a intolerância religiosa, salve os Kalungas, os ribeirinhos e todos os povos e comunidades tradicionais. Gratidão nessa parceria linda até aqui!
Vida longa ao Àwúre!